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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Santista, CEO da Suzano vê perda para a humanidade com morte de Pelé e defende SAF no futuro do Santos

Walter Schalka é membro do conselho deliberativo do time e viu Pelé jogar pela primeira vez em 1968

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São Paulo

O presidente da Suzano, Walter Schalka, que aprendeu a ser santista na infância, levado pelo pai aos jogos do Pelé, sentiu a morte do ídolo como uma "perda enorme para a humanidade".

Hoje membro do conselho deliberativo do Santos, Schalka foi um dos pilares da atual gestão do clube, comandada por Andres Rueda, que assumiu a presidência do Santos em 2021. O executivo era integrante do comitê de gestão, cargo que entregou no primeiro semestre por motivos profissionais, mas segue no conselho.

Para o futuro do Santos, Schalka vê um time fortalecido e com a credibilidade recuperada depois de um abismo nas contas. "O Santos tinha quase nenhuma credibilidade no mercado financeiro e havia quase nenhuma possibilidade de levantar capital. Nesses dois anos em que o presidente Rueda está no comando da administração, houve uma recuperação financeira relevante. Obviamente, isso não levou a uma possibilidade de ter times competitivos, mas acredito que o Santos vem se preparando para o futuro", diz.

Segundo o executivo, a possível mudança na gestão administrativa para a SAF (Sociedade Anônima de Futebol) é, conceitualmente, um bom caminho, a depender da proposta. "O clube já discute se quer ser ou não uma SAF e recuperou toda a parte de credibilidade. Em campo esses últimos dois anos não foram bons, mas é um processo que o Flamengo e o Palmeiras passaram e deu resultado. Será assim com o Santos", diz.

Walter Schalka durante entrevista à Folha, na sede da Suzano em São Paulo
Walter Schalka durante entrevista à Folha, na sede da Suzano em São Paulo - Zanone Fraissat - 22.ago.2019/Folhapress

No debate sobre a mudança para SAF, ele diz que vários empresários de fora já manifestaram interesse. "Não estou acompanhando com nível de detalhamento porque não estou mais no comitê de gestão, mas sei que já houve manifestações e interesse pela SAF", diz. O tema, que já foi aprovado no conselho deliberativo e pelos sócios, volta a ser submetido a eles, se tiver uma proposta firme que for aceita pelo comitê de gestão.

"Isso pode ser uma alternativa para voltar a colocar o Santos em outro patamar. É difícil dizer que essa será a melhor alternativa porque o Santos, diferentemente dos clubes que já viraram SAF, não tem dependência financeira. A SAF foi a última opção desses clubes porque eles não tinham como levantar recursos. Com a recuperação financeira que o clube teve, isso deixou de ser vital", diz.

Como o sr. recebeu a notícia da morte do Pelé? Tinha relação próxima com ele? É uma perda enorme para a humanidade. Vinha acompanhando o que estava acontecendo através do presidente do Santos. Sabia que era uma situação irreversível, que ele estava em cuidados paliativos, mas obviamente não tinha a menor ideia da parte médica, de saber quando aconteceria.

Conheci o Pelé 20 anos atrás, mas nunca tive intimidade. Assisti ao Pelé em campo pela primeira vez em 1968. Meu pai era torcedor fanático do Santos e começou a me levar para vê-lo jogar. Foi um orgulho enorme poder ter assistido ele, ver não só os gols, mas também os lances maravilhosos.

Vê-lo em campo o motivou a se tornar um dirigente do Santos? Não teve correlação. O Pelé me influenciou muito como torcedor, mas para ser dirigente a única coisa que me influenciou foi a busca por resgatar uma situação em que o Santos poderia ou deveria estar neste momento. O Santos passou por momentos delicados nos últimos anos. As duas vezes em que estive no Santos foram para tentar levar o time a um patamar melhor.

É comum em alguns momentos do esporte, quando grandes ícones morrem, os times identificados com aquele personagem buscarem resultados que o homenageiem. Acha que será assim com o Santos na próxima temporada? O Pelé teve uma influência enorme na história do futebol do Santos e do futebol mundial. O Santos sem o Pelé seria alguma outra coisa completamente diferente. O Brasil e o futebol brasileiro também. Vale lembrar que a primeira Copa do Mundo que o Brasil conquistou foi com o Pelé já com 17 anos de idade.

O futebol brasileiro foi antes e depois do Pelé. O prestígio que o Pelé proporcionou ao futebol do Brasil e do Santos é inominável. É o brasileiro mais conhecido no mundo e ele foi um grande embaixador do Brasil e do Santos, que só existe na dimensão que existe hoje por causa dele. Espero que o Santos tenha uma gestão moderna e consiga alavancar sua história pela questão do Pelé.

O sr. deixou o comitê de gestão do Santos neste ano. Como está sua relação com o clube? Sou do conselho deliberativo e apoio o presidente atual. De tempos em tempos, falo com ele ao telefone.

Como estão as discussões para a próxima temporada? Houve uma recuperação financeira absurda do momento em que o presidente Rueda tomou posse até agora. A situação do Santos era próxima do precipício, muito delicada. O clube tinha seis ou sete Fifa bans [punição administrativa da Fifa pelo não pagamento de transferências de atletas] e não pagava os jogadores havia três meses. Havia o risco de perdê-los, pois esse é o limite que você pode deixar os jogadores sem salário.

O Santos tinha quase nenhuma credibilidade no mercado financeiro e havia quase nenhuma possibilidade de levantar capital. Nesses dois anos em que o presidente Rueda está no comando da administração, houve uma recuperação financeira relevante. Obviamente, isso não levou a uma possibilidade de ter times competitivos, mas acredito que o Santos vem se preparando para o futuro.

A diretoria aprovou a mudança do estatuto e a mudança do estádio, que será de primeiro mundo, com mudanças significativas na Vila Belmiro. O clube já discute se quer ser ou não uma SAF e recuperou toda a parte de credibilidade. Em campo esses últimos dois anos não foram bons, mas é um processo que o Flamengo e o Palmeiras passaram e deu resultado. Será assim com o Santos.

Como será o novo estádio do Santos? O projeto propõe a derrubada da Vila, que será reconstruída em um tamanho maior e ficará mais moderna. Em 14 de abril, no aniversário do Santos, teremos o término do projeto executivo e a liberação das vendas das cadeiras e camarotes. Com a entrada desses recursos a obra deve começar em agosto ou setembro.

Existe alguma proposta de grupos ou empresários que querem participar dessa mudança para SAF no Santos? Vários empresários externos já manifestaram interesse. Não estou acompanhando com nível de detalhamento porque não estou mais no comitê de gestão, mas sei que já houve manifestações e interesse pela SAF. Isso já foi aprovado tanto no conselho deliberativo, quanto pelos sócios. Se tiver uma proposta firme, que for aceita pelo comitê de gestão, será submetida ao conselho deliberativo e aos sócios.

Isso pode ser uma alternativa para voltar a colocar o Santos em outro patamar. É difícil dizer que essa será a melhor alternativa porque o Santos, diferentemente dos clubes que já viraram SAF, não tem dependência financeira. A SAF foi a última opção desses clubes porque eles não tinham como levantar recursos. Com a recuperação financeira que o clube teve, isso deixou de ser vital.

A SAF, do ponto de vista da gestão, se tornou uma revolução tardia para os clubes brasileiros. Isso seria positivo no Santos? Os presidentes dos times, na maior parte dos casos, são apaixonados pelos clubes, mas alguns deles não têm condição administrativa ou moral de gestão. Tivemos casos sérios nesses dois exemplos, de despreparo ou de pessoas que usaram o clube. Com a SAF você resolve essa questão. Eu defendo a SAF não apenas pela questão financeira, mas para dar sustentabilidade e perenidade ao clube.

Então seu voto pela SAF seria um ‘sim’? Não seria para qualquer proposta, mas conceitualmente eu defendo a SAF.


Raio-X

Formado em engenharia aeronáutica pelo ITA (Instituto tecnológico de Aeronáutica) e pós-graduado pela FGV, IMD e Harvard Business School, o executivo é presidente da Suzano desde 2013 e atuou como CEO da Votorantim Cimentos entre 2005 e 2012.

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