A perspectiva de retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil nesta semana levanta entre os empresários um receio de que o governo Lula vire o foco para o bate-boca político e perca concentração nos temas prioritários da agenda econômica.
A avaliação é que o comportamento de Lula no embate com o senador Sergio Moro na semana passada foi uma amostra de que o governo ainda pode estar muito preocupado com a pauta da polarização.
"A preocupação é que nós não conhecemos ainda o plano e a estratégia do governo. Por mais que tenha coisas colocadas na mesa, não podemos perder o foco na reforma tributária, no arcabouço fiscal e na
redução do custo de capital no Brasil", afirma José Ricardo Roriz, presidente da Abiplast (que reúne a indústria dos plásticos).
Para o economista Roberto Teixeira da Costa, ex-presidente da CVM e fundador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), é importante que Bolsonaro retorne e que responda por atos cometidos em seu governo, mas Lula deveria deixar esses assuntos para serem tratados na Justiça. O ex-presidente enfrenta casos que vão desde multas por fazer motociata sem máscara na pandemia até apuração dos atos antidemocráticos.
"Eu não vejo o presidente americano Joe Biden falar do ex-presidente Donald Trump", diz Teixeira da Costa.
Segundo o economista, o Brasil tem um cardápio de coisas a serem feitas. "Há grandes frentes abertas que estavam na base do discurso presidencial, como a questão da desigualdade. Isso é um tema que nós não podemos deixar arrefecer. O Brasil não pode prosperar sem resolvermos isso. Um país não cresce sem criar novos mercados distribuindo melhor a renda. Tem também a questão climática e a questão dos yanomami", diz Teixeira da Costa.
Marco Polo de Mello Lopes, que coordena a Coalizão Brasil, que reúne os representantes de 14 setores industriais, afirma que o foco deve continuar na reforma tributária e no debate sobre o patamar dos juros.
"Ninguém tem dúvida em relação ao patamar elevadíssimo dos juros, mas também há uma percepção de que precisa ter esse movimento por parte do governo, e ele está trabalhando nisso mas precisa formalizar, sobre o que é o arcabouço fiscal. Não vai baixar juro por causa de pressão em cima de Banco Central", diz Lopes.
Joana Cunha com Paulo Ricardo Martins e Diego Felix
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