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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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TCU tenta amenizar herança bilionária de Bolsonaro nas contas de luz

Tribunal deve negociar com usinas de quem o governo é obrigado a comprar energia que encarece contas em R$ 9 bilhões por ano

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Brasília

Sem acordo com o governo, quatro empresas de energia devem abrir negociações com o TCU (Tribunal de Contas da União) para tentar resolver um impasse que hoje encarece a conta de luz em 4,49% –R$ 9 bilhões ao ano.

Essa possibilidade foi aberta por um despacho do presidente do tribunal, Bruno Dantas, que autorizou as negociações e a suspensão dos processos envolvendo a KPS (Karpowership Brasil Energia), a Âmbar Energia (dos irmãos Batista), a Linhares e a Barra Bonita I (vinculada à Tradener).

Para isso, o relator dos processos no TCU, ministro Benjamin Zimler, terá de concordar. Se aceitar, as negociações podem durar até três meses, prazo em que os processos ficarão congelados. A expectativa é que em, no máximo, um mês as partes cheguem a um acordo.

Fechado o acerto, as condições serão submetidas à apreciação do plenário do TCU.

Térmica Mario Covas, em Cuiabá (MT); Ministério de Minas e Energia questiona decisão da Agência de Energia Elétrica em favor de seu controlador, a Âmbar, braço de energia da J&F
Térmica Mario Covas, em Cuiabá (MT); Ministério de Minas e Energia questiona decisão da Agência de Energia Elétrica em favor de seu controlador, a Âmbar, braço de energia da J&F - 07.ago.2022-Divulgação

Há enorme pressão do governo para que esse conflito seja solucionado pelo grupo de Solução Consensual de Conflitos do TCU.

No início deste ano, o Ministério de Minas e Energia tentou, sem sucesso, fechar um acordo com as empresas. Agora, a proposta é manter os contratos vigentes sem que haja a obrigatoriedade da compra de energia.

O governo pagaria pela disponibilidade dessas usinas —um valor bem baixo— e só compraria a energia caso houvesse necessidade.

Embora haja descumprimento dos contratos pelas empresas, cancelá-los poderia gerar mais contestações judiciais pelas empresas com encargos cada vez mais pesados sobre os consumidores.

O imbróglio é mais uma herança do governo Jair Bolsonaro. Na crise hídrica, o Ministério de Minas e Energia decidiu autorizar a construção de 17 empreendimentos térmicos para gerar energia a um preço elevado.

Nenhum deles ficou pronto na data prevista nos contratos. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) cancelou alguns e isso deflagrou uma judicialização pelas empresas.

Ao final, quatro delas construíram termelétricas e, por força do contrato, o governo foi obrigado a comprar a energia gerada por um preço exorbitante.

Nos despachos obtidos pelo Painel S.A., o presidente do TCU afirma que foram adquiridos 24,9 TWh (terawatt-hora) de energia, com disponibilidade de cerca de 1,220 GW (gigawatt) de potência.

O pagamento previsto era de R$ 11 bilhões anuais, dos quais cerca de R$ 9 bilhões seriam repassados ao consumidor cativo, resultando em aumento de 4,49% nas tarifas de energia.

Somente as usinas Karley 013, Karkey 019, Porsud I e Porsud II, do grupo turco Karpowership Brasil Energia, concentraram 25% desse gasto, cerca de R$ 3 bilhões. O grupo foi o que mais judicializou contra a Aneel e o governo.

No final do ano de 2021, as chuvas voltaram e o risco de escassez foi afastado, derrubando o preço da energia no mercado de curto prazo de R$ 583,88/MWh (megawatt-hora) para R$ 55,70/MWh.

No entanto, o governo continuou comprando a energia mais cara dessas empresas.

A KPS, por exemplo, recebe cerca de R$ 200 milhões por mês, mesmo diante de decisões contrárias da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Com Diego Felix

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