O puxão de orelha no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, saiu do Secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto, e dos demais integrantes do grupo de trabalho que, há três meses, discute o fim do crédito rotativo no cartão.
O grupo, que funciona no BC, é formado pelo presidente e outros dois diretores da autarquia, Marcos Pinto (Fazenda), representantes da Febraban e dos quatro maiores emissores de cartões (Itaú, Bradesco, Santander e Nubank).
A ideia era ter uma proposta definitiva em dois meses. Ainda falta a chegada de representantes do varejo e das maquininhas (elas fazem a antecipação dos pagamentos parcelados aos lojistas) no grupo.
No entanto, durante audiência no Senado, o chefe do BC anunciou que pretende acabar com o rotativo como forma de reduzir a Selic, a taxa básica de juros da economia.
A autarquia sofre pressão do governo Lula para cortá-la —hoje, ela é de 13,25% ao ano. Um projeto de lei em tramitação no Congresso pretende reduzir os juros do rotativo, que chegam a 453% ao ano.
O diagnóstico, segundo integrantes do grupo de trabalho, é o de que, com uma inadimplência de 53%, o rotativo encarece as demais linhas de crédito e, com isso, impacta a Selic, o que justificaria uma mudança radical no produto.
Para isso, há, no momento, diversas opções na mesa de discussão do grupo de trabalho no BC. A principal é, justamente, a que acaba com o rotativo.
Por esse novo sistema em discussão, ao se tornar inadimplente, o tomador migraria automaticamente para o parcelamento da dívida com juros de 8% ao mês, igual ao do cheque especial, mais baixo que o praticado atualmente nos cartões.
Com a nova proposta, ao entrar no parcelamento, o devedor terá seu limite cortado, ou seja, somente recuperará a capacidade de comprar após voltar ao azul.
21% do PIB em compras
Cálculos que vão ser apresentados na reunião do grupo na próxima semana mostram que, dessa forma, as compras no cartão sofrerão queda de R$ 350 bilhões por ano. Isso porque 35% dos clientes serão atingidos pela restrição, o equivalente a 65 milhões de cartões.
Atualmente, as compras por cartão de crédito movimentam R$ 2,1 trilhões (21% do PIB) por ano. Desse total, 75% das compras são parceladas sem juros. Somente 25% ocorrem com parcelas e juros.
Em outros países, como EUA e Reino Unido, essa proporção é inversa –25% dos parcelamentos são feitos sem juros e 75%, com.
O grupo de trabalho considera outras opções, que se baseiam em desestimular o parcelamento sem juros. Considera-se que, ao dividir as despesas por meses a fio, o consumidor tem maior possibilidade de dar calote na fatura do cartão. Isso porque, num período mais longo, fica exposto a sobressaltos na vida financeira.
Por isso, avalia-se cobrar uma taxa (ainda a ser definida) a partir da quarta prestação para se livrar de juros. Essa cobrança seria uma espécie de seguro contra a inadimplência.
Outra possibilidade seria o aumento da taxa de intercâmbio (cobrada do lojista pelo emissor do cartão) nessas operações de parcelamento sem juros.
Com Diego Felix
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