Descrição de chapéu Banco Central

Campos Neto diz que levou 'puxão de orelha' mas aponta problemas em rotativo

Presidente do Banco Central voltou a falar da alta inadimplência do rotativo, o que tornaria o produto inviável

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Curitiba

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (11) não ter detalhes sobre a medida que pode gerar o fim do rotativo do cartão de crédito e que tomou um "puxão de orelha" após ter antecipado o tema durante uma fala a senadores, na quinta-feira (10).

Ele voltou, contudo, a falar da alta inadimplência do rotativo, o que tornaria o produto inviável. Também disse que, se nada for feito, há risco de "colapso" na indústria de cartões de crédito.

"Então já estamos fazendo várias políticas, para desafogar, oferecer alternativas, mas também estamos fazendo um plano para não ter o rotativo, de tal forma que a gente conseguisse equilibrar os números", afirmou ele, antes de citar o "puxão de orelha" —sem precisar quem teria sido o autor do pito.

"A gente não tem os detalhes ainda. Eu tomei um puxão de orelha depois que eu falei... Mas a gente deve ter nos próximos dias um formato mais definido. Lembrando que é uma coisa que estamos fazendo junto com o Ministério da Fazenda."

Embora tenha afirmado não ter detalhes, fez críticas ao produto: "O rotativo começou a ter uma inadimplência alta, que fechou maio em 54%. Se você tem um produto com inadimplência de 54%, você tem um problema no produto, porque não conheço nenhum outro país com uma inadimplência tão alta", disse.

"Geralmente, quem toma a decisão de dar o crédito não é quem está, digamos assim, administrando o risco do crédito. Temos aí uma assimetria neste sentido", continua ele.

Imagem mostra Campos Neto falando em microfone. Ele veste terno e usa óculos vermelhos.
Roberto Campos Neto em sessão no Senado ao lado de Rodrigo Pacheco - Gabriela Biló - 10.ago.23/Folhapress

As declarações foram dadas durante um fórum organizado pela Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná), na manhã desta sexta-feira (11). Campos Neto também visitou pela manhã a Biblioteca do Centro Universitário Positivo, onde há um acervo com mais de 8 mil livros que eram do seu avô, o economista Roberto de Oliveira Campos. Os livros foram doados pela família para a universidade. No período da tarde, ele fez um novo encontro com o empresariado local, na ACP (Associação Comercial do Paraná), onde foi homenageado pelo Sistema Ocepar, entidade que reúne as cooperativas do estado. Lideranças políticas locais —dos partidos Novo e Podemos— acompanharam a agenda.

Segundo Campos Neto, o cartão de crédito foi usado no Brasil como competição entre os agentes financeiros, inclusive entre varejistas, o que "acelerou muito" a concessão do produto, a ponto de as pessoas terem "dois, três, quatro, cinco cartões".

"A gente precisa entender que o problema foi gerado por uma concessão grande de cartões, por um parcelamento sem juros que, aparentemente não tem custo, mas que obviamente alguém paga o custo no fim. E a gente precisa achar um equilíbrio para isso", afirma ele.

De acordo com o presidente do Banco Central, trata-se de uma tarefa "superdifícil", mas necessária para se evitar um "colapso".

"O comércio fala que precisa de um parcelado sem juros porque isso estimula a compra. De outro lado, se nada for feito, e a gente começar a ter um colapso na indústria de cartões de crédito, você vai ter uma queda muito grande em vendas", diz ele.

Segundo Campos Neto, 40% das vendas no Brasil são feitas com cartão de crédito, o que destoa de um "país emergente normal", onde os números ficariam hoje entre 10% e 15%.

Ele afirma ainda que já estão sendo adotadas políticas para oferecer alternativas, mas admite que o fim do rotativo é visto como o plano para "equilibrar os números".

"A gente deve ter nos próximos dias um formato mais definido. Lembrando que é uma coisa que estamos fazendo junto com o Ministério da Fazenda, que tem feito um trabalho muito bom sobre o tema, junto com técnicos do Banco Central, com associações interessadas, e com bancos também", afirma ele.

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