A defesa da Americanas encaminhou à Justiça de São Paulo na noite de segunda-feira (18) uma petição por meio da qual tenta comprovar que seu ex-CEO, Miguel Gutierrez, tinha conhecimento e participava da fraude que deixou um rombo bilionário nos balanços da companhia.
As provas, segundo a Americanas, são anotações manuscritas feitas por ele em um documento chamado "visão financeira interna", de abril de 2022. Esse arquivo era usado para organizar como o consumo de caixa da rede e sua alavancagem seriam apresentados nos balanços.
A petição foi encaminhada à primeira instância, onde tramita um processo de produção antecipada de provas apresentado pelo Bradesco (o maior credor da Americanas no processo de recuperação judicial), e também em um recurso do ex-CEO.
Agora, a defesa da Americanas encaminhará a papelada aos demais órgãos que investigam a situação da varejista, como CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Ministério Público e à CPI em andamento na Câmara dos Deputados, que entra agora na reta final.
Na terça (20), os parlamentares decidirão sobre os requerimentos de quebra dos sigilos bancários, fiscais e telemáticos dos ex-diretores da empresa envolvidos na fraude dos balanços da companhia.
"Miguel Gutierrez não apenas tinha ciência como participava ativamente das discussões sobre a fraude", escreve a defesa da rede varejista na petição de segunda.
O documento preparado pela defesa da Americanas inclui também trocas de emails de ex-diretores que mostram Gutierrez entre os destinatários.
Nessas comunicações, esses antigos gestores discutem o balanço "visão interna", que traria, segundo a rede, a situação real das finanças —com um Ebitda, o resultado operacional da empresa, negativo em R$ 733 milhões em 2021.
Parte dessas trocas de mensagens eletrônicas já tinham sido apresentadas pelo atual CEO da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, na CPI.
Miguel Gutierrez enviou depoimento por escrito à CPI da Americanas e responsabilizou a 3G Capital, dos acionistas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, pela fraude. Eles descartam as alegações.
Em nota à Folha nesta terça (19), o ex-CEO diz que a atual administração "pinça documentos fora de contexto, na tentativa de construir uma narrativa absolutamente falsa" contra ele, com o objetivo de inocentar os membros do conselho de administração.
Ele afirma que os documentos citados pela empresa na petição "não têm qualquer relação com uma suposta manipulação de resultado" e que "nas vias próprias, Miguel refutará com detalhes cada uma das acusações e está cobrando as reparações devidas em decorrência delas."
Com Diego Felix
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