Painel S.A.

Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Painel S.A.
Descrição de chapéu China indústria

Siderúrgicas pedem tarifa para aço estrangeiro, mas estão importando o metal

Presidente da Associação Brasileira de Máquinas critica pedido por medida protecionista

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O setor siderúrgico brasileiro reforçou na última semana críticas às importações de aço, principalmente vindo da China. Presidentes das principais empresas do setor cobram do governo uma alíquota temporária de 25% sobre as compras externas do metal.

José Velloso, presidente-executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), diz que as próprias siderúrgicas têm importado aço e que as compras externas afetam todos os setores da indústria. Além disso, como o aço é uma matéria-prima, medidas protecionistas teriam efeito sobre toda a cadeia industrial, afirma.

Homem branco sorrindo, olhando para a foto
Jose Velloso Dias Cardoso, presidente-executivo da Abimaq - Divulgação

Como a ofensiva das siderúrgicas afeta o setor?
É a principal matéria-prima do setor de máquinas e equipamentos. Então, logicamente, estamos contra o aumento do imposto de importação do aço.

Esse produto é utilizado na maioria das cadeias produtivas, em máquinas e equipamentos, nos automóveis, nos eletrodomésticos. Vai aumentar o preço de geladeira, do fogão, da autopeça, do automóvel, da máquina. Da infraestrutura na geração de energia, no transporte ferroviário, transporte de caminhões, de pessoas, ônibus. Tudo utiliza aço.

O que pode ser feito para conter a ofensiva?
Existe uma coalizão dos usuários de aço, 18 entidades, e nos manifestamos junto ao governo contra o aumento da proteção, porque isso pode tirar competitividade, aumentar o custo do Brasil.

Quem está importando?
Grande parte do aumento da importação, por exemplo, de aços planos, vem das siderúrgicas. A placa, quando chega no Brasil, obrigatoriamente tem que passar por uma siderúrgica para ser laminada. As próprias siderúrgicas aumentaram as importações de placas para relaminar.

No pedido que fizeram para o aumento do imposto de importação, eles não pediram aumento para placas. Esse aumento precisa ser olhado com lupa, com muito cuidado.

O setor de máquina e equipamentos importa?
Meu setor importa muito pouco. Nós temos barreiras em importação. Nosso setor compra aço, mais de 95% do setor, na distribuição, porque são empresas de porte médio. Quando aumenta o imposto de importação, na verdade, aumenta a margem para subir o preço aqui dentro.

O que o governo disse à coalizão de usuários do aço?
O governo não se reuniu conosco, mas enviamos um ofício explicando por que somos contra.

Em 2022, o Brasil importou em torno de US$ 4,8 bilhões de aço. Só em máquinas e equipamentos, importou US$ 26 bilhões, que é aço transformado, aço contido. E o Brasil importa mais coisas feitas de aço, eletrônico, automóvel, autopeça, eletrodomésticos.

Esse argumento da invasão chinesa não serve somente para o aço. Se você aumenta o custo de quem compra aço, isso pode aumentar a vulnerabilidade [da indústria]. O Brasil importa muito mais bens produzidos com o aço do que aço bruto.

A indústria fala que está com uma ociosidade de 40%, e usa desse dado para confrontar o aumento da importação. Essa ociosidade seria um efeito do preço ou do desaquecimento da própria economia?
A economia foi desaquecida por causa dessa política de alta de juros, foi o que o Banco Central queria, desaquecer a economia. Mas esse negócio de baixa utilização, temos que tomar cuidado.

A Usiminas está com o alto-forno 3 desligado [para reforma] e, na semana passada, saiu na imprensa especializada, que eles estão importando da China e do Vietnã.

Como estão as relações na Coalizão Indústria?
Quando formamos a Coalizão Indústria, em 2018, eu e o Marco Polo [de Mello Lopes, presidente-executivo da Aço Brasil], ficou combinado que só trataríamos de temas horizontais, e não temas setoriais.

É totalmente compreensível que a Aço Brasil vá aos ministérios e faça seus pleitos, faz parte do jogo, como é o caso das 18 entidades que se juntaram. Isso não afeta as relações, tudo está sendo feito de uma forma elegante.


RAIO-X | José Velloso Dias Cardoso, 61

Formado em engenharia mecânica e administração de empresas, é presidente-executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos); em 2018, organizou a Coalizão Indústria para discutir pautas do setor com governo federal

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.