O CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, quer cobrar juros de até 4% nas compras parceladas em mais vezes no cartão de crédito. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) defende a isenção até três parcelas.
"Via para reduzir o [juro do] rotativo seria criar o parcelado com juros", disse Maluhy Filho para investidores durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre do banco, nesta quarta (7).
Minutos após o encerramento da teleconferência, o Itaú Shop, espécie de marketplace do banco, passou a anunciar uma promoção, oferecendo parcelamento em 15 vezes sem juros.
Embora não defenda o fim do parcelamento sem juros, o executivo disse que menos de 0,5% do faturamento da indústria de cartões provém de compras em mais de 12 parcelas.
Para os investidores, Maluhy Filho quer que o atual modelo –de parcelamento sem juros– seja substituído pelo parcelado com juros "de uma forma que financie os clientes num nível competitivo, a 4% por mês [este seria o juro do parcelamento em mais vezes]".
O objetivo com essa medida seria reduzir a taxa de juros do rotativo, que, em setembro, chegou a 441% ao ano.
O CEO do Itaú Unibanco disse estar preocupado com a possibilidade de redução do rotativo, sem mudança no parcelamento sem juros: '' o impacto no teto de 8% [juros definidos pela lei do rotativo sancionada recentemente] seria de R$ 350 bilhões na economia [de redução em vendas impostas por restrições dos bancos]''.
Discurso versus realidade
A promoção do Itaú Unibanco cai na mesma contradição da campanha do Santander.
Como noticiou o Painel S.A. nesta terça (7), o CEO do Santander, Mario Leão, fechou parceria com o Mercado Livre para a Black Friday, oferecendo parcelamentos sem juros em 21 vezes. O executivo defende que o parcelamento sem juros seja limitado a três ou quatro vezes.
Bancos, varejistas e empresas de maquininhas travam uma disputa em torno do parcelamento no cartão de crédito.
As discussões são mediadas pelo Banco Central que, há cerca de um mês, tenta chegar a um acordo em torno da proposta de parcelamento em até 12 vezes em um primeiro momento, chegando gradualmente a quatro parcelas, no máximo, como forma de reduzir os juros elevados no cartão de crédito.
Os bancos afirmam que, com o endividamento das famílias, os devedores entram no rotativo do cartão, que cobra juros de, em média, 445% ao ano.
Para eles, isso alimenta um círculo vicioso, que faz aumentar ainda mais os juros nessa modalidade de crédito. Por isso, querem restringir o parcelamento sem juros ao mínimo de parcelas possível. Para compras acima desse mínimo a ser definido, avaliam a cobrança de juros. Dizem que nos EUA e Europa é assim que funciona.
Varejistas e empresas de maquininhas discordam e defendem que a culpa pelos juros elevados do rotativo é dos próprios bancos, que emitem cartões sem o devido controle do risco.
Entre 2018 e 2022, o número de plásticos passou de 100 milhões para 202 milhões.
Para esse grupo, as campanhas de parcelamentos em 15 e 21 vezes de Itaú Unibanco e Santander, respectivamente, só comprovam a contradição dos bancos, que têm condições de controlar o risco das operações nos cartões de crédito sem impor restrições à quantidade de parcelas para todo o mercado.
Outro lado
O Itaú Unibanco afirma que não é contra o parcelamento sem juros. O banco diz que reconhece a importância desse meio [de pagamento] para que a população tenha acesso a bens de consumo.
"A discussão não é sobre ser contra ou a favor do parcelado sem juros, mas sobre reequilibrar um sistema que estimula o superendividamento, por meio de subsídios cruzados entre empresas de maquininhas e lojistas, e onera quem mais precisa de crédito –a população de baixa renda", disse o banco em nota.
"A inadimplência demonstrada no último ciclo econômico somente agravou uma situação que já não era equilibrada", disse.
Quanto às ofertas de itens parcelados no Itaú Shop, o banco esclarece que se trata de uma plataforma de e-commerce voltada aos clientes, com parcelamento sem juros disponível ou pagamento à vista com desconto, além de cashback.
"Tal plataforma não vai de encontro ao equilíbrio do sistema defendido pelo setor bancário, uma vez que não se beneficia de subsídios cruzados que oneram lojistas e clientes."
Com Diego Felix e Paulo Ricardo Martins
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.