Os irmãos Leandro e Thiago Ramos, fundadores da plataforma de ecommerce de tecnologia Kabum!, pediram ao Banco Central que impeça uma reestruturação do Itaú BBA, a quem acusam de ter favorecido o Magazine Luiza na compra do Kabum!.
O movimento dos irmãos subiu o tom das desavenças em torno do negócio bilionário ocorrido em 2021.
No ofício enviado para o Deorf (Departamento de Organização do Sistema Financeiro) do BC, na última sexta-feira (17), os irmãos afirmam que o Itaú BBA, banco de investimentos contratado para fechar a operação, beneficiou um dos donos do Magalu.
Por isso, pedem que o BC não aprove o pedido do Itaú de transferir o controle do BBA para uma outra empresa não regulada pela autarquia.
Ambos alegam que isso blindaria o braço de investimento do Itaú que, ainda segundo eles, estaria tentando obstruir investigações sobre conflitos de interesse envolvendo seus executivos.
Procurado pelo Painel S.A., o Itaú disse que não teve acesso ao ofício. A companhia afirma que as razões para a cisão do Itaú BBA são públicas e não têm qualquer relação com as discussões judiciais relacionadas ao Kabum!.
Os fundadores do Kabum! acusam Ubiratan dos Santos Machado, diretor do Itaú BBA, de ter manipulado a venda da plataforma para beneficiar o Magalu. Eles citam uma relação próxima entre Machado e Frederico Trajano, diretor-presidente da varejista.
A venda do Kabum! para o Magazine Luiza foi realizada em julho de 2021 por R$ 1 bilhão. Os fundadores do Kabum! afirmam, porém, que o Magalu se propôs a pagar, além do R$ 1 bilhão em dinheiro, mais R$ 2,5 bilhões em ações da varejista. Os Ramos se tornariam sócios do Magalu.
Mas, no mesmo dia em que anunciou a compra do Kabum!, o Magalu anunciou também um follow-on (oferta subsequente de ações), que fez o preço da ação cair. Por conta da desvalorização do papel, o negócio, que seria de R$ 3,5 bilhões, acabou ficando por menos da metade do preço, segundo os advogados dos irmãos Ramos.
Caso a cisão do Itaú BBA seja permitida, a defesa dos fundadores do Kabum! pede que o Banco Central, ao menos, ressalve que o braço de assessoria financeira do Grupo Itaú continuará subordinado à avaliação da autarquia.
O Itaú Unibanco informou a seus acionistas, no fim de outubro, que a cisão do Itaú BBA tinha sido aprovada pelo conselho de administração da companhia.
As atividades de assessoria financeira, estruturação e coordenação de operações com títulos ou valores mobiliários seriam transferidas para a Itaú BBA Assessoria. Já as atividades típicas de instituições financeiras ficarão sob responsabilidade da holding Itaú Unibanco.
A proposta será votada na semana que vem em assembleia geral extraordinária.
A defesa dos irmãos Ramos já havia ido à Justiça neste mês para pedir que Ubiratan fornecesse informações como a quantidade de ações de emissão do Magalu em sua posse e adquiridas por ele ou empresa controlada por ele entre 2020 e 2021.
Querem saber ainda se Machado assessorou Frederico Trajano na aquisição da plataforma de ecommerce Netshoes em 2019.
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