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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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"Sou contra a glamurização do empreendedorismo", diz bilionário da Easy Taxi

Mineiro de Carangola que começou vendendo celular, Tallis Gomes fez fortuna com negócios ligados à internet

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Brasília

Você pode nunca ter ouvido falar de Tallis Gomes, mas é improvável que não conheça Easy Taxi, Singu ou G4. Esses três negócios inovadores foram criados por ele que, aos 32 anos, se tornou um bilionário. Mineiro de Carangola, Gomes entrou para a lista da Forbes Under 30 e, em 2017, foi apontado pelo MIT, o renomado instituto de tecnologia dos EUA, como um dos grandes talentos da atualidade. Sua meta, depois de fazer fortuna, é gerar 1 milhão de empregos.

Tallis Gomes, dono da Singu
Tallis Gomes, dono da Singu - Eduardo Anizelli - 01.mar.2018/Folhapress

Empreender é a melhor forma de promoção social no Brasil?
É a única mola propulsora de crescimento. Comecei comprando celular com desconto e vendendo mais caro para fazer dinheiro. O empreendedorismo nasce na minha vida por necessidade. Sou um pouco contra a glamurização do que é empreender, porque, para a maioria dos brasileiros, isso significa somente a sobrevivência. Hoje, dos 22 milhões de CNPJs ativos, metade fatura até R$ 130 mil por ano. Ou seja, são pessoas subsistindo.

Mas o que permitiu que seu negócio rompesse essa barreira e você se tornasse um empresário rico?
Quando a gente vem muito de baixo, precisa de um estímulo diferente para mudar essa realidade. Primeiro, é preciso conhecimento. Se você não conhece matemática, não consegue calcular o fluxo de caixa, não conseguirá reinvestir na companhia. Segundo, é o apetite por risco. Terceiro, disciplina na execução do plano. É muito difícil, quando você começa a ganhar dinheiro, continuar investindo no seu negócio em vez de realizar um sonho pessoal, como fazer uma grande viagem. O pensamento de longo prazo é o grande diferencial.

Você vendeu a Easy Taxi por R$ 1 bilhão. Qual o peso da internet para esse sucesso?
Antes era quase impossível que um jovem como eu, de uma família extremamente pobre em uma cidade pequena, construísse um negócio. A internet permitiu a mobilidade social porque, de forma barata, só com o esforço do seu conhecimento, dá para amplificar o que você faz, tendo a própria web como canal de distribuição de massa.

Seus negócios sempre deram certo?
Quebrei logo no início. Acabei mudando para o Rio de Janeiro para fazer faculdade, com uma filha pequena e uma dívida para pagar. Lá, fui segurança de balada, de restaurante, distribuí panfleto em festa de amigo. Fazia bicos, enquanto aprendia programação [de computador]. Comecei a fazer anúncios de marketing no Google para médicos, fisioterapeutas, empresas, para que eles aparecessem no topo das buscas, e acabei pagando minha dívida com isso.

Como chegou ao seu primeiro negócio de sucesso?
Havia um evento chamado Startup Weekend, um programa de aceleração do Vale do Silício, dos EUA, comprado depois pelo Google. Participei e lá tive a ideia da Easy Taxi. Em 2011, o Brasil só tinha 4% de smartphones. Tinha de convencer os taxistas de que esse tipo de celular seria o futuro, para que ele não ficasse na mão das cooperativas. A moda na época era a Nextel [espécie de radioamador]. O negócio deu certo e se expandiu para 34 países em 18 meses. Recebi o maior investimento da época, R$ 10 milhões, o que era dinheiro infinito, e crescemos muito rápido.

De táxi para serviço de manicure vai uma distância enorme. De onde surgiu a ideia da Singu?
Uma namorada brincou com a ideia de que eu deveria criar uma "Easy Manicure". Fui checar o mercado e vi que era duas vezes maior que o de táxi, cerca de R$ 120 bilhões, e 40% dele era serviço de beleza. Aí tive um insight.
Nesse negócio, o fator de sucesso é o real state [imóvel, locação]. Os salões de sucesso atendem em locais ricos e pagam de 30% a 50% para as manicures. Inverti a ordem. Nossa plataforma conectava a profissional à cliente e eu pagava 60% para ela e ficava com 40%. Ela se livrou do real estate e nosso software ainda fazia gestão financeira. Com isso crescemos a renda dela, em média, duas vezes. Vendemos esse negócio em 2020 para a Natura, mas ele não me deixam falar por quanto (risos).

Você criou um curso de "como chegar lá" com a G4 Educação. Até ensinando você ganha dinheiro?
[Risos] Sofri um acidente de paraquedas, em 2018, e fiquei preso na cama por mais ou menos três meses. Sou um cara muito ativo e pensei em escrever um livro. A ideia era estudar o S&P 500 [Índice Standard&Poor´s] nos últimos 50 anos para responder quais eram as ferramentas utilizadas pelas empresas que mais cresceram nesse período. Foi daí que surgiram as técnicas que uso na G4.
Em vez do livro, um amigo propôs lançarmos um curso de imersão para empreendedores, porque ninguém lê no Brasil. Seriam R$ 10 mil por cadeira para 50 pessoas. A gente vendeu meio milhão em uma tarde. Fiquei chocado e pensei: se a gente criar um ecossistema e essas pessoas pagarem R$ 10 mil, teremos um negócio de R$ 5 milhões.
Foi assim que nasceu a escola, com o programa de formação. No primeiro ano, foram R$ 11 milhões [de faturamento] e 50% de resultado. No segundo ano, R$ 22 milhões e 45% de resultado. Hoje, quinto ano, passamos de R$ 200 milhões com R$ 43 milhões de lucro líquido. A gente cresce como unicórnio [startup], mas entrega resultado de empresa listada [com capital aberto].

Você tem algum sonho?
Quando eu era jovem [ele só tem 32 anos], gostava de ver meu nome na lista da Forbes, do MIT. Hoje em dia eu dou valor para o lucro líquido, o resultado da empresa. É muito mais legal saber que tem 357 mil famílias que levam recursos para dentro das suas casas com o resultado do meu trabalho. A minha meta é gerar 1 milhão de novos postos até 2030.

RAIO-X | Tallis Gomes

Formação: Graduação em Marketing e Comunicação Social pela ESPM (não concluído)
Carreira: Analista de marketing da Unilever (2009-2010); fundador da E-Spartan e TechSamurai (2010); diretor de marketing da Ortobom (2011); CEO e fundador da Easy Taxi (2011-2015); CEO e co-fundador da eGenius (2014-2015); conselheiro Hotel Urbano (2015-2017); CEO e fundador da Singu (2015-2020); presidente do conselho da G4 Educação (desde 2019)

Com Diego Felix

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