Papo de Responsa

Espaço de debate para temas emergentes da agenda socioambiental

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Papo de Responsa

Perseverança para tirar ideias do papel

Além da vontade para levar adiante um negócio de impacto, é preciso planejamento estratégico

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marcus Nakagawa

Professor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, autor premiado com o Jabuti 2019, palestrante e idealizador da Abraps e do Dias Mais Sustentáveis.

Para quem trabalha na busca por impacto socioambiental positivo, a perseverança é fundamental. Tem quem use a palavra resiliência, que vem do latim 'resilire', e indica a capacidade inata dos materiais de voltarem ao seu estado original. Na condição de seres humanos, podemos dizer que é a habilidade de nos adaptarmos a circunstâncias adversas.

Uma história famosa de perseverança é aquela do beija-flor que pega água em seu bico várias vezes e fica jogando sobre a floresta em chamas. Quando outro beija-flor diz que não vai adiantar nada, o primeiro responde que está fazendo a parte dele.

Saíra-beija-flor na Estação Biológica Augusto Ruschi, em Aracruz (ES)
Saíra-beija-flor na Estação Biológica Augusto Ruschi, em Aracruz (ES) - Victor Barbosa/Estação Biológica Augusto Ruschi

Empreendedores precisam de energia interior para continuarem trabalhando, vencerem as adversidades internas da organização e as variáveis externas. Muitas vezes, é por falta destas análises que a organização acaba sucumbindo.

Não adianta só ter vontade ou energia interior para manter o empreendimento de pé. É necessário um planejamento estratégico para minimizar a possibilidade de fechar a organização.

Segundo pesquisas do Sebrae, falta de conhecimento em gestão, planejamento e educação para o empreendedorismo são tópicos que levam micro e pequenas empresas ao fechamento.

Então, se o empreendedor quer "ficar em um lugar com esperança, obtendo uma conquista", ou seja, ter perseverança, é fundamental juntar isso com bom planejamento estratégico e a implementação de um plano de ação adequado à sua realidade.

O planejamento estratégico pode parecer um nome imponente e bonito para vender consultorias ou livros, mas tem que ser simples para um negócio de impacto que está começando ou em fase de crescimento.

A primeira parte é ter definido seu público e qual problema do mundo este empreendimento de impacto quer mitigar. Seja melhorar a educação de um público de baixa renda no bairro da zona oeste da cidade Y ou o acesso de pessoas discriminadas pela sociedade na cidade X.

Com isso, fica mais fácil chegar à missão, aos valores e à visão da organização. Na segunda parte, é tentar entender as variáveis externas que podem ajudar ou atrapalhar a organização.

Pensar como a economia pode ser influenciada por aumentos de preços ou com baixas das taxas de empréstimos, por exemplo.

Ou ainda, entender a demografia do bairro em que o empreendimento se instalará, quantas crianças podem ser beneficiadas, ou quantas pessoas são possíveis compradores do produto ou do serviço social que estamos montando.

É fundamental entender também as questões sociais, políticas e as leis que podem influenciar a operação do dia a dia.

Se no seu empreendimento não tiver ninguém que entenda deste tema, busque ajuda com amigos, familiares e até dentro da universidade. Há muitas faculdades que apoiam empreendimentos que estão começando ou crescendo por meio de incubadoras e aceleradoras.

A terceira parte é organizar internamente processos, divisões de tarefas, os responsáveis pelas ações, buscar métricas de controle e sucesso, enfim, planejar como será a melhor forma de se trabalhar.

O plano de ação é listar tudo o que a empresa fará, dividido ao longo do tempo (cronograma), estabelecendo uma pessoa responsável em cada ação, tangibilizando sua entrega. Pode ser uma planilha, uma foto da atividade, uma lista de presença da reunião ou a ata da atividade, em um documento físico ou digital.

Muita gente diz é adepto do "bota para fazer", depois a gente pensa. Sim, algumas vezes precisamos ir adiante, sair da inércia do planejamento. Mas o ideal é que façamos minimamente um planejamento para podermos ter em que perseverar.

E se este planejamento está só na cabeça do empreendedor, fica no mundo das ideias —e é difícil perseverar neste lugar.

Como dar continuidade a algo que não existe ou que fica só em algumas sinapses nos neurônios do empreendedor? Para perseverarmos em algo, é necessário ter o algo, correto?

Então vamos buscar o crescimento no negócio de impacto com um planejamento estratégico e um plano da ação sistematizado. Aí sim, conseguiremos perseverar em algo que será mais tangível do que em somente algumas sombras imaginárias na caverna.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.