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Informação como base para transformação social

Experiências que agricultores passam de geração a geração impulsionam o empoderamento e a estima no sertão nordestino

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José Dias

Formado em ciências econômicas, é coordenador e captador de recursos do Centro de Educação Popular e Formação Social (Cepfs). É empreendedor social da Ashoka e da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

Os agricultores e agricultoras, homens e mulheres simples foram, em parte da história da agricultura, conduzidos a acreditar que não tinham capacidades. Essa qualificação pertenceria aos que tiveram a oportunidade de se formar nos centros acadêmicos, alguns destes bastantes fechados à ideia de compartilhamento de experiências.

Sem informação, eles precisariam ser assistidos tecnicamente para ter êxito nos seus cultivos e empreendimentos. As organizações sociais, dentre elas o Centro de Educação Popular e Formação Social (Cepfs), tiveram um papel importante no processo de promover o diálogo e mostrar outra versão, baseada na construção coletiva do conhecimento.

 Formação no Centro de Educação Popular e Formação Social (Cepfs)
Formação no Centro de Educação Popular e Formação Social (Cepfs) - Na Lata

A informação trabalhada foi a de que a agricultura nasceu de experimentos de mulheres e homens simples que, ao coletarem sementes na natureza para se alimentar, perceberam que estas podiam ser cultivadas, gerando produção para a segurança alimentar e nutricional e também para as trocas que atendiam a diversas necessidades.

Da mesma forma, aconteceu com os animais, que foram sendo domesticados a partir das caças e criados.

Nesses processos, agricultores e agricultoras acumularam rico conhecimento, que foi sendo repassado e ampliado de geração a geração.

Entretanto, havia interesse de domínio. Portanto, era necessário vender ideias que desqualificassem esse entendimento e, em seu lugar, plantassem a proposta da assistência técnica.

Isso não significa dizer que entendemos não haver necessidade de acompanhamento técnico, mas compreendemos que assistir gera dependência. É diferente de orientar, promover, estimular o encontro de saberes locais e agregar informações técnicas para inovações.

Partindo desse entendimento, trabalhamos processos formativos participativos visando o exercício da cidadania e das capacidades das famílias a partir de suas próprias conquistas.

Por exemplo, com a conquista inicial da água para beber e para a produção, houve um despertar para o resgate da biodiversidade. As famílias tiveram sua estima elevada e passaram a enxergar outras possibilidades, impulsionando a luta por outras necessidades, tendo a natureza como aliada nos cultivos agroecológicos.

A partir de uma informação segura, houve um despertar do poder que cada família tinha e tem de transformar sua realidade, sobretudo, quando se une com outras famílias e buscam objetivos comuns.

Outro exemplo: a partir da formação cidadã, onde a promoção do encontro de saberes foi estimulada, a conexão entre os participantes possibilitou um novo olhar para as potencialidades ofertadas pela própria natureza.

As famílias de agricultores e agricultoras experimentadores despertaram para otimizar ofertas que a própria natureza disponibiliza para a melhoria das condições de vida.

Com o acesso à água para produção e formação cidadã, as famílias passaram a cultivar alimentos saudáveis, impactando na saúde e na geração de renda.

Com a promoção do intercâmbio de saberes locais, houve um aproveitamento maximizado da produção, promovendo mudanças no hábito alimentar e na geração de renda para as famílias.

O intercâmbio de saberes possibilitou inspiração para inovações nas tecnologias socioambientais. Um exemplo é a cisterna com sistema de boia para desviar os primeiros milímetros das chuvas, possibilitando a lavagem do telhado e melhorando a qualidade (potabilidade) da água para consumo humano.

Outro exemplo: a horta orgânica. Conquista que veio com a economia de água a partir da colocação do sombrite para diminuir a insolação e a construção de canteiros com alvenaria, que aumentam a vida útil da experiência e ampliam a economia de água, uma vez que o gotejamento se dá diretamente nas raízes dos cultivos.

Esses exemplos revelam que quando a informação é segura e, de algum modo, se dá a partir de um resgate de práticas já vividas pelos participantes, impulsiona o empoderamento e a estima dos participantes.

O sentimento de pertencimento pode resultar em novos experimentos, na reaplicação a partir das condições particulares de cada localidade, de cada propriedade.

As informações e experiências que os agricultores e agricultoras vêm cultivando por meio do repasse de geração a geração, quando compartilhadas por meio do encontro de saberes locais, potencializam as transformações sociais.

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