Neste dezembro marcado por transição e Copa, o Prêmio Espírito Público apresentou 27 trajetórias de profissionais públicos que estão mudando para melhor o país. Os vencedores e finalistas do prêmio são a síntese do que há de melhor no Brasil.
Eles estão revolucionando modelos de doação de órgãos, promovendo alfabetização na idade certa, humanizando nossa administração penitenciária, garantindo que políticas públicas alcancem famílias em situação de vulnerabilidade e promovendo equidade e inclusão de grupos historicamente sub-representados.
Eles estão digitalizando serviços públicos, encarando a linha de frente da pandemia com medidas simples e eficazes, inovando no combate à exploração ilegal e transformando realidades ao mesmo tempo em que contribuem com a preservação da natureza.
As trajetórias desses profissionais que temos a sorte de ter empregados por algum dos entes federados da República naturalmente não cabe nesse artigo.
Em "Poemas", Wislawa Szymborska reflete sobre o que é preciso para escrever um currículo: "O currículo tem que ser curto mesmo que a vida seja longa. Obrigatória a concisão e seleção dos fatos. Trocam-se as paisagens pelos endereços e a memória vacilante pelas datas imóveis."
Algumas das conquistas dos finalistas e vencedores do Prêmio Espírito Público são dessas que cabem em currículos. Outras, mais intangíveis, merecem ser celebradas com a emoção compartilhada de quem compreende que o Estado brasileiro e seus servidores são tão potentes quanto indispensáveis.
O Prêmio Espírito Público é um convite a todo o país para celebrar essas trajetórias de pessoas que dedicam todas as suas horas úteis a fazer do Brasil um país mais justo, mais eficiente e mais equitativo.
Este ano em sua 5ª edição, a cerimônia comandada pelo humorista Rafael Infante premiou profissionais públicos em nove eixos setoriais. Foram recebidas mais de 1.500 inscrições, de forma que não deve ter sido fácil para os júris setoriais, formados por especialistas renomados, escolher os finalistas e vencedores.
Fica evidente que, a despeito dos problemas do Estado brasileiro —que indiscutivelmente existem e são incontáveis— há muita gente boa trabalhando por nós.
A ambição do prêmio é reconhecer e dar mais visibilidade para as trajetórias e os projetos desses profissionais públicos e, assim, impulsionar ainda mais seus alcances. Parece que está funcionando.
São vários os exemplos de vencedores de anos anteriores que deslancharam na carreira e passaram a usufruir de mais legitimidade para implementar suas visões. Fomentar a escala dos projetos da nova turma pode transportar soluções que deram certo para uma série de problemas complexos enfrentados em outros lugares.
Cabe aqui outra citação de uma autora mulher vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, desta vez Annie Ernaux, que também é servidora pública e esteve em Paraty (RJ) recentemente falando, entre outras coisas, sobre seus tempos de professora. Falando sobre a narrativa de sua existência em "Os Anos", ela diz que "gostaria que fosse uma existência singular, mas entrelaçada ao movimento de uma geração".
A fusão do íntimo e do coletivo, que é uma marca importante de seu estilo literário, se aplica aqui também porque estamos falando de pessoas que entregam tudo de si individualmente para implementar projetos de natureza e impacto globais, muitas vezes transcendendo até os limites de uma geração.
Embora o Prêmio Espírito Público reconheça trajetórias e projetos específicos, os finalistas e vencedores são a representação da coletividade do serviço público, daqueles entre os quase 12 milhões de profissionais públicos brasileiros que trabalham para que o Estado cumpra melhor o seu papel de oferecer educação e saúde de qualidade para todos, de preservar nossa riqueza ambiental e de incluir aqueles em situação de vulnerabilidade.
O serviço público não pode ser feito apenas de heróis. O serviço público precisa ser feito por todos.
Diretora executiva da República.org, tem mestrado em Dados, Economia e Políticas de Desenvolvimento pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology)
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