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Mulheres ainda não são legitimadas como escritoras, diz Annie Ernaux no Nobel

Escritora de 82 anos, que chamou a Academia Sueca de 'instituição para homens', fez um discurso ao receber o prêmio

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São Paulo

A escritora Annie Ernaux, de 82 anos, falou sobre a posição da mulher na literatura em seu discurso nesta quarta (7), quando recebeu o Nobel de Literatura. Ela afirmou na cerimônia que há homens que ignoram os livros escritos por mulheres e que sua escolha para receber o prêmio representa esperança.

A escritora francesa Annie Ernaux durante seu discurso de aceitação do Nobel de Literatura de 2022
A escritora francesa Annie Ernaux durante seu discurso de aceitação do Nobel de Literatura de 2022 - AFP

O discurso de Ernaux, que esteve no Brasil em novembro para participar da Festa Literária Internacional de Paraty, em Paraty, aconteceu depois de ela afirmar que o Nobel era "uma instituição para homens", em entrevista à Agence France-Presse. Mas a francesa não cutucou diretamente a Academia Sueca em sua fala nesta quarta.

Ernaux falou sobre o poder da leitura, afirmando que "quando o indizível é trazido à luz, isso é político". "Vemos isso hoje na revolta das mulheres que encontraram as palavras para romper o poder masculino e que se levantaram, como no Irã, contra sua forma mais arcaica", disse.

A escritora, considerada uma pioneira no estilo da autoficção, tipo de literatura que se espraia cada vez mais pelo mundo, disse que mesmo trabalhando em um país democrático, continua se perguntando sobre "o lugar que as mulheres ocupam no campo literário".

Para a francesa, as mulheres "ainda não ganharam legitimidade como produtoras de obras escritas". "Existem homens no mundo, incluindo as esferas intelectuais ocidentais, para quem simplesmente não existem livros escritos por mulheres; eles nunca os citam."

Autora de obras como "O Lugar", "Os Anos" e "O Acontecimento", Ernaux escreve num limiar entre a ficção e o relato documental. Seus livros contam histórias autobiográficas ao mesmo tempo em que refletem sobre o contexto social em que foram vividas —Ernaux era filha de um comerciante pobre na região rural da França e saiu de casa para estudar letras e se formar professora na Universidade de Rouen— e sobre o próprio processo de vasculhar suas memórias.

No discurso que anunciou Ernaux como vencedora do Nobel, em outubro, a Academia Sueca citou uma das mais famosas autodefinições da escritora, que costuma dizer que, em vez de autora de ficção, é uma "etnóloga de si mesma", celebrando sua capacidade de misturar experiências pessoais e coletivas.

O reconhecimento de sua obra pela Academia Sueca, disse Ernaux nesta quarta (7), "é um sinal de esperança para todas as escritoras".

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