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Ataque em escola expõe carência de ensino inclusivo a crianças e adolescentes

Lei federal incentiva combate ao assédio moral sistemático, mas instituições precisam adotar medidas concretas contra o preconceito, a exclusão e a violência

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Carolina Videira

Vencedora do prêmio “Rise and Raise Others” da ONU, é educadora, mestre em neurologia, especialista em inclusão para diversidade e fundadora da Turma do Jiló

Eu costumo me indagar se os altos índices de doenças relacionadas à má alimentação no Brasil seriam muito menores se houvesse ênfase em educação alimentar nas pautas escolares.

Questionamento parecido que me faço é se seríamos melhores gestores de nossas finanças e menos vulneráveis a armadilhas lançadas por terceiros se lá na escola tivéssemos capítulos dedicados à educação financeira.

Não sou especialista em ambos os assuntos, mas acredito que a educação na base nesses dois temas nos ajudaria a construir um cenário mais positivo. E seríamos uma sociedade muito menos preconceituosa e raivosa se a educação inclusiva fizesse parte dos primeiros anos de vida letiva.

Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste de São Paulo, onde um aluno matou uma professora a facadas, feriu três docentes e dois alunos - Bruno Santos/Folhapress

O recente ataque de um aluno de 13 anos em uma escola estadual de São Paulo, que resultou na morte de uma professora e cinco pessoas feridas, não é um caso isolado.

Ele retrata comportamentos moldados pela mais absoluta carência de valores e indiferença a sentimentos alheios, somados à ineficácia de gestões públicas na implementação de práticas inclusivas, formação continuada, valorização de professores e aplicação de leis.

Um grande erro é pensar que o bullying e o preconceito estão atrelados a uma mera vocação violenta.

Essa visão nos faz buscar vilões e heróis na história, acreditando que basta retirarmos os vilões que o problema será extirpado.

O aumento da violência dentro das escolas está diretamente ligado à ausência de práticas inclusivas e preventivas nas instituições de ensino. Ignorar isso é um equívoco perigoso.

O respeito à diversidade precisa ser ensinado nas escolas, locais repletos de pessoas em formação e distintas umas das outras, um mundo bem diferente do ambiente doméstico.

Pesquisa feita pela Febraban-Ipespe mostrou a escola como ambiente mais propício a esse tipo de assédio moral —sendo cor, raça e orientação sexual as principais razões para o bullying. O estudo "Bullying e Cancelamento: Impacto na Vida do Brasileiro" ouviu 3.000 pessoas nas cinco regiões do país em 2022.

A violência precisa ser tratada com seriedade por toda a comunidade escolar. É preciso que as instituições de ensino, tanto públicas quanto privadas, adotem medidas efetivas de combate e prevenção ao bullying, conforme estabelece a lei 13.185/2015 – Combate à Intimidação Sistemática (Bullying).

O aumento da violência dentro das escolas está diretamente ligado à ausência de práticas inclusivas e preventivas nas instituições de ensino. Ignorar isso é um equívoco perigoso.

Carolina Videira

Fundadora da Turma do Jiló

A lei informa, por exemplo, que é dever do estabelecimento de ensino assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática.

A educação inclusiva traz resultados efetivos em uma escola quando desenvolvida com uma rede de profissionais especializados em educação inclusiva. O núcleo deve agir de forma abrangente nas comunidades escolares, envolvendo todas as questões de diversidade e preconceitos.

Esse grupo especializado se movimenta usando todos os seus tentáculos. Atua diretamente nas formações continuadas de professores, das famílias e de alunos para que todos se tornem agentes de mudança e contribuam para um ambiente respeitoso e que gere muito mais garantia de aprendizagem.

No entanto, na prática, muitas escolas ainda falham em implementar essas medidas, o que colabora para o aumento da violência nesses locais.

Motivos para frear os avanços inclusivos são vários, entre os quais o entendimento de que investir no aperfeiçoamento coletivo significa custo extra à escola, assim como o protecionismo cego àqueles que pagam mensalidades.

O Programa de Educação Inclusiva, metodologia criada pela Turma do Jiló, é desenvolvido atualmente em escolas públicas da cidade São Paulo com o intuito de educar, elevar talentos singulares e conviver com a diversidade.

O método produz mudanças significativas na vida das pessoas e os ensinamentos são retransmitidos às famílias e utilizados ao longo da vida.

É preciso que a sociedade se mobilize para garantir que as escolas cumpram suas obrigações legais e adotem medidas concretas para combater o bullying, a violência e todas as formas de preconceito e exclusão.

Além disso, é importante que se leve em conta as causas subjacentes da violência nas escolas, como a falta de investimento em educação e infraestrutura, a desigualdade e a exclusão social.

Sem enfrentar essas questões, não será possível resolver o problema da violência nas escolas.

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