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O audiovisual e as alterações climáticas

Estudos mostram que as alterações no clima global ainda constituem tema pouco mencionado em roteiros de filmes e programas de TV

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Carolina Dias

O famoso naturalista e apresentador inglês, Sir David Attenborough, declarou em 2020: "Enfrentar as alterações climáticas hoje é um desafio político e de comunicação, tanto quanto científico e tecnológico".

Na mesma direção, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão vinculado à ONU, divulgou em março de 2023 a síntese do seu Sexto Relatório de Avaliação. Nele, os 49 autores conclamam por transformações em maior número e mais rápidas.

Ambos os registros mostram que, mesmo que estejamos no limite, ainda temos tempo para fazer escolhas para um mundo sustentável. O audiovisual é um observador sensível às questões contemporâneas e criador de futuros imaginários, influenciando a maneira como a sociedade vê o mundo.

Cena do filme 'Uma Verdade Mais Inconveniente'
Cena do filme 'Uma Verdade Mais Inconveniente' que tem como tema a urgência da questão climática e que é idealizado por Al Gore, ex-candidato à presidência dos EUA - Divulgação

No entanto, dois estudos recentes nos fazem refletir sobre a atenção deste setor a tal desafio.

Em 2020, a palavra "cão" foi mencionada na mídia inglesa 22 vezes mais do que "alterações climáticas". Já a palavra "bolo", foi citada 79 vezes mais do que "biodiversidade" em todos os programas exibidos em canais de TV como BBC, ITV, Channel 4, e UKTV (com exceção dos noticiários diários).

Esses são dados da organização Albert, que desde 2019 publica estudos sobre sustentabilidade na indústria audiovisual.

Nos Estados Unidos, entre 2016 e 2020, a palavra "cão" foi mencionada 13 vezes mais do que um conjunto de 36 expressões relacionadas às alterações climáticas. O levantamento publicado pela Good Energy e pela Universidade da Carolina do Sul analisou 37,4 mil roteiros de filmes e programas de TV.

O estudo também apontou que apenas 0,6% desses roteiros mencionavam a expressão "alterações climáticas" ao menos uma vez, e somente 2,8% deles (cerca de 1 mil roteiros) mencionavam pelo menos uma das 36 expressões analisadas.

Já em relação às causas e consequências, a pesquisa da Good Energy concluiu que apenas 10% dos roteiros relacionavam as indústrias do carvão e do petróleo às mudanças climáticas.

O relatório do IPCC afirma que dentre as barreiras para a adaptação às alterações no clima estão o baixo letramento climático e o pouco sentido de urgência. Mesmo assim, vários estudos referem que a população mundial está preocupada com o assunto.

Ainda nos Estados Unidos, a Good Energy concluiu que os espectadores sentem que os personagens de ficção estão menos preocupados do que eles com esse tema.

Aos 96 anos, o apresentador Attenborough ainda é uma referência na divulgação do mundo natural, desvendando seus segredos e suas maravilhas em programas de televisão. No entanto, ele também foi criticado por só tardiamente abordar as consequências das ações humanas no universo que ele retratou tão intensamente.

Talvez a demora tenha sido consequência da visão de distanciamento e de domínio que temos sobre a natureza, que desde o Iluminismo se intensificou ao longo do século XX até chegarmos à urgência ecológica em que nos encontramos hoje.

Abordar o tema e as relações sistêmicas da sustentabilidade direta ou indiretamente é, antes de tudo, trazer para as telas o que já estamos vivendo e sentido individualmente e coletivamente.

Doutoranda em sustentabilidade e trabalha como produtora de cinema há mais de 20 anos no Brasil e em Portugal.

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