O que levou o ser humano a se abrigar em uma caverna pela primeira vez? Quais eram as necessidades que queríamos suprir? Quais valores cresceram dentro de nós para que deixássemos a vida nômade e começássemos a fincar raízes?
As respostas a essas perguntas são as mesmas que hoje levam uma família a escolher uma casa para morar —a busca por segurança, previsibilidade, higiene, conforto e pertencimento. Tudo isso permeado por uma necessidade vital de esforço comum para autopreservação da espécie.
Por isso, ainda hoje, mesmo morando sozinhos, estamos inseridos em comunidades, seja em um condomínio, bairro ou país. Até aqui, foi fácil deduzir, o que me intriga é a partir do momento em que começamos a nos excluir. Quando foi que decidimos deixar alguém para fora da caverna?
Usando a realidade brasileira como exemplo do desafio que a humanidade enfrenta, o novo censo do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontou que mais de 5 milhões de pessoas não têm banheiro dentro de casa.
Em alguns tipos de análise, a quantidade de banheiros por pessoa em uma residência indica o nível socioeconômico da família e sua ausência aponta condições sub-humanas de moradia.
O diagnóstico traduzido pelo censo expõe problemas seculares e enraizados no país, como o déficit habitacional e a falta de saneamento básico para todos.
Então, qual o tamanho da arrogância de um planeta que mira povoar outro planeta e sequer consegue que todos os seus habitantes tenham um banheiro? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico —expressão que já traz a própria crítica, uma vez que o saneamento deveria ser básico e não privilégio.
Uma discussão que me faz pensar que a humanidade não caminha no sentido evolutivo, como nos sugere a imagem óbvia da Teoria da Evolução. Na verdade, a humanidade se arrasta com uma cauda tão longa que, alguns, no papel de deuses, projetam carros para sobrevoarem outros que cavam buracos para jogar dejetos, como animais.
A desigualdade é tão desproporcional que me faz perceber que ainda não nos reconhecemos como seres da mesma espécie que, ao olhar para o outro lado da ponte e ver famílias sem um vaso sanitário, não conseguimos notar o espelho que nos reflete.
Usamos diversos subterfúgios para não nos sentirmos na ponta mais frágil da equação. Dividimos em países, cores, classes, raças e qualquer outra justificativa que nos conforte a razão. Tudo é válido para não lidarmos com a terrível realidade de que nós somos os causadores das nossas mazelas.
Não precisamos inventar a nova pólvora para continuar evoluindo, nós só precisamos voltar os olhos para o objetivo primordial de toda vida na Terra, a sobrevivência da espécie. O mais poderoso dos humanos é humano também e deveria lutar por todos os demais —nem que seja por egoísmo.
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