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Como a espécie humana evoluiu? Arqueologia e genômica debatem

No último episódio do programa Ciência Aberta de 2019, especialistas mostram que a polêmica é peça-chave na construção do conhecimento

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A ciência registra que o Homo sapiens tem um antepassado comum, o Homo habilis, que, segundo algumas teorias, teria saído da África em direção ao Cáucaso há cerca de 2,4 milhões de anos. As espécies humanas que surgiram depois se espalharam por todo o mundo.

A saga do homem é contada pela arqueologia — com base em achados fósseis — e, mais recentemente, também pela genômica, que trouxe para a ciência ferramentas poderosas para a investigação do passado.

As duas narrativas sobre a origem do homem — a da arqueologia e da genômica—, no entanto, divergem em vários pontos. E alguns destes pontos de divergência ficaram evidentes no oitavo episódio do programa Ciência Aberta, lançado no dia 11 de dezembro e que juntou arqueologia e genômica na discussão sobre “Os genomas da população brasileira”.

O programa reuniu três renomados especialistas. Do lado da arqueologia, Walter Alves Neves, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, fundador do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos, e responsável pelo estudo de Luzia, o esqueleto humano mais antigo das Américas.

Do lado da genômica, Lygia da Veiga Pereira, pesquisadora do Instituto de Biociências da USP, chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE) e do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo e integrante do Cepid-Fapesp Centro de Terapia Celular, e Sérgio Danilo Pena, professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia e diretor do Laboratório de Genômica Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, diretor científico do Gene (Núcleo de Genética Médica de Minas Gerais) e coordenador do estudo "Retrato Molecular do Brasil”.

Neves recentemente inquietou seus pares ao publicar um artigo em que defende, com base em descobertas na Jordânia, que o homem deixou a África 400 mil anos antes do que se pensava

No programa Ciência Aberta ele voltou a mostrar sua disposição para a polêmica quando afirmou que “só Deus sabe” o que define gênero e espécie. A “nossa concepção”, ele disse, “vem da ideia de que espécies são populações que não trocam genes entre si. E a gente sabe que isso não corresponde à realidade”.

Mas o fato é que a falta de definições complica também a vida dos geneticistas. “Nós trabalhamos com o homem moderno, o sapiens. E a definição de homem moderno é complexa. Temos algumas referências temporais — cerca de 200 mil anos —, mas que estão sendo progressivamente aumentadas na direção do passado. É crítico definir o que é Homo sapiens e essa dúvida permeia todo o diálogo”, afirmou Pena.

A origem desse problema, sublinhou Neves, está no fato de que nem sempre a arqueologia encontra fósseis que permitam fazer avaliações definitivas. Diferentemente do senso comum, que concebe a evolução humana como linear, “não tem linearidade” nesse processo, defende o arqueólogo. “Pode ter havido grandes símios que eram bípedes”, provocou.

Gravação do programa Ciência Aberta sobre arqueologia e genômica
Gravação do programa Ciência Aberta sobre arqueologia e genômica - Felipe Maeda/Agência Fapesp

Recentemente, análises genéticas mostraram o cruzamento entre Homo sapiens e neandertais – espécie ancestral extinta. “Sobrou uma fração de até 2% de genoma de origem neandertal em algumas populações da Europa”, afirmou Pereira da Veiga. Do ponto de vista da seleção natural, ela continuou, é preciso entender que genes são esses e como foram selecionados ou que funções eles exercem no homem moderno.

As polêmicas em relação ao passado refletem-se também na caracterização do presente. O conceito de raça, sumariamente rechaçado pelos geneticistas, foi reafirmado por Neves, em mais um debate instigante.

Tudo isso pode ser assistido no último episódio de 2019 do programa Ciência, também disponível nas redes sociais da Fapesp.

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