Pedro Luiz Passos

Empresário, conselheiro da Natura.

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Economia viciada em subsídios e protecionismo confunde até arautos liberais

Cabe a governos fechar os guichês que atendem pedidos de privilégios para grupos de interesse

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A maioria dos governantes eleitos nas últimas eleições, do federal aos estaduais, tomou posse anunciando programas liberais na economia —de privatizações a enxugamento da máquina estatal.

Diante do comprovado malefício das políticas intervencionistas, a mudança radical no rumo da economia está na ordem do dia.

Ainda assim, movimentos recentes acenderam o sinal amarelo para os que defendem uma renovação econômica sustentada na abertura comercial, na concorrência e no fim das políticas setoriais, com sua plêiade de desonerações, subsídios e iniquidades sociais.

Indiferentes aos critérios da gestão racional e transparente, essas gentilezas com dinheiro público alimentaram a crise fiscal que até hoje tolhe o crescimento e o emprego.

Trabalhadores da GM, em pé, com as mãos para o auto e com faixas de protesto, em São José dos Campos se manifestam  contra proposta de reestruturação da montadora, no dia 1º de fevereiro
Trabalhadores da GM em São José dos Campos protestam contra proposta de reestruturação da montadora, no dia 1º de fevereiro - Divulgação/ Sindmetal SJC

Dias atrás, por exemplo, a General Motors ameaçou fechar suas operações no Brasil, caso os resultados colhidos por aqui não melhorassem substancialmente.

Como habitual no setor automotivo, candidatou-se a um tratamento tributário especial para investir e pediu a liberação de créditos do ICMS represados pelo governo de São Paulo.

Longe de ser um caso isolado, a barganha repete duas das mais nocivas e recorrentes mazelas das políticas industriais no Brasil, principalmente no caso da indústria automobilística.

A primeira é reivindicar incentivos fiscais para resolver problemas cuja origem encontra-se, de fato, no mercado e na gestão. Para tanto, as empresas lançam mão das costumeiras ameaças de demissões em massa e retirada do país —um expediente que há décadas subtrai recursos fiscais mais necessários em áreas essenciais.

A segunda mazela é a falta de equidade do sistema tributário. Sim, é justo reivindicar créditos tributários retidos —a compensação do ICMS está prevista em lei e é sistematicamente ignorada pelos estados da Federação, assim como ignoram o pagamento de precatórios de toda espécie.

Mas o atendimento a essa legítima demanda não deveria contemplar apenas uma empresa ou um único setor, como sinalizou o governo paulista.

Esse direito tem de ser reconhecido de forma abrangente, com agilidade, sem burocracia e de forma impessoal, alcançando todas as inúmeras empresas que se encontram na mesma situação.

Aliás, melhor ainda: o ICMS deveria ter uma alíquota única para todas as atividades, sem tratamento especial, como aconteceu agora com o setor aéreo no estado de São Paulo.

Tais casos revelam como a agenda de modernização da economia enfrentará duros percalços, exigindo muito mais do que a imprescindível reforma da Previdência.

A abstinência fiscal em uma economia viciada em subsídios pode gerar reações estranhas, como levar arautos do liberalismo econômico a topar adiar para um futuro indefinido a remoção das barreiras protecionistas em troca da aprovação das reformas. 

Sempre haverá justificativas para o injustificável amontoado de concessões que premiam setores econômicos, corporações e grupos de interesse sortidos.

Os governos eleitos com promessas de arejar a economia e combater privilégios têm uma missão incontornável: ignorar os pedintes de casuísmos e, assim, evitar que o Estado, em todas suas instâncias, volte a cair em antigas ciladas.

Sem isso, o aumento da produtividade da economia será uma quimera. Sem isso, não há como darmos certo. 

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