PerifaConnection

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias. Feita por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

PerifaConnection

A partir da tragédia do coronavírus, podemos erguer uma sociedade fraterna

Nova realidade imposta pela Covid-19 também dá espaço a sentimento de esperança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Por Salvino Oliveira

A nova realidade imposta pela Covid-19 fez com que os brasileiros vivenciassem uma Páscoa diferente de todas as outras. Neste ano, os acalorados encontros de família e a agitação das crianças pelos chocolates não puderam acontecer, mas, mesmo sem as festividades, a páscoa pode nos ensinar uma grande lição. É nessa festividade que cristãos e judeus comemoram a vitória da esperança e, em um momento de pandemia, precisamos refletir sobre o significado dessa conquista.

Páscoa vem da palavra hebraica "pesah", que significa "passagem". Em 2020, por coincidência, a Páscoa judaica e a Páscoa cristã ocorreram quase ao mesmo momento. A primeira é comemorada pelos judeus durante uma semana, neste ano do dia 8 ao dia 16 de abril. A Páscoa judaica marca a noite em que Deus anunciou a libertação do povo hebreu e disse-lhes para ficarem em casa e cumprir o ritual de marcar as portas com o sangue de um animal sacrificado, assim o anjo da morte que ceifaria os primogênitos evitaria entrar em suas casas. Para os cristãos, a Páscoa, comemorada neste ano no dia 12 de abril, representa a ressurreição de Cristo, o retorno do Messias ao mundo dos vivos.

Voluntários se reúnem para distribuir cestas básicas, no Rio
Voluntários se reúnem para distribuir cestas básicas durante a crise do coronavírus, no Rio - Filipe Cordon/Folhapress

Foi durante a escravidão que os judeus viveram um dos piores momento de sua história: além de todas as pragas no Egito, estavam sob o jugo impiedoso do faraó. Do mesmo modo, a crucificação e a morte de Cristo, na sexta-feira, foi o pior momento para os cristãos. Em ambos os casos, a esperança foi o que restou para os povos. A Páscoa é a metáfora perfeita da esperança, a vitória sobre a morte, o tempo de renascer.

Nesse momento tão difícil que o mundo enfrenta, o principal desafio é não se deixar arrastar pela corrente da desesperança. Por isso, devemos olhar para o que foi esse feriado refletindo sobre as palavras de Paulo Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir”.

Apesar de afastados uns dos outros, nós, brasileiros, nunca estivemos tão juntos na missão a ser cumprida. É no momento de maior fragilidade social que centenas de pessoas em todo Brasil organizaram campanhas de arrecadação e foram às ruas, colocaram-se em risco para que os mais vulneráveis pudessem ter o que comer. O verdadeiro sentimento de esperança movimenta essas pessoas, o desejo sincero e verdadeiro de vivermos em uma sociedade menos desigual e mais coletiva.

Além disso, devemos tomar cuidado com aqueles que minimizam o momento, ignoram as mortes e negam a importância das medidas de isolamento. Essas pessoas, por falta de conhecimento ou por maldade, criam cortinas de fumaça que expõem milhares de indivíduos e colocam vidas em risco. Neste momento, precisamos reforçar as correntes de afeto e respeitar o que nos indicam os profissionais da saúde.

As notícias sobre mortes, saques e pessoas que negam a necessidade de isolamento nos fragilizam, e tudo bem passarmos por momentos de fraqueza. Ninguém consegue estar bem o tempo inteiro. Quando se sentir fraco você pode chorar, escutar uma música ou conversar com um ente querido. Mas nunca perca a esperança, pois, como diria Nelson Cavaquinho: "O Sol há de brilhar mais uma vez/A luz há de chegar aos corações/Do mal será queimada a semente/O amor será eterno novamente".

Aqui, o amor e a esperança se encontram e se unem na possibilidade de, a partir das cinzas dessa tragédia, erguermos uma sociedade fraterna que tenha o amor como máxima. O amor como empatia para com o outro, uma forma de sentir a dor dos que nos cercam dentro de nós. O amor que não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Que tudo perdoa, que em tudo crê, que em tudo espera e que tudo suporta. Afinal, como diz o evangelho de João 4:8: “Aquele que não ama não conhece Deus; porque Deus é amor".

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.