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A crise no Rio e as possibilidades de futuro

Soluções para crise política, polícia e pandemia passam por responsabilidade coletiva

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Salvino Oliveira

Há quem diga que a história permite, entre outros benefícios, tomar consciência dos erros cometidos no passado. Certas decisões dos cariocas, porém, parecem ignorar importantes lições registradas na história do país.

Decidimos eleger Marcelo Crivella (PRB) em 2016 —aqui vale dizer que a escolha foi muito mais por oposição ao adversário Marcelo Freixo (PSOL) do que pelas qualidades do bispo— e logo descobrimos que a tão repetida frase “Vamos cuidar das pessoas” não passava de demagogia. O Índice Firjan de Gestão Fiscal mostrou que a prefeitura do Rio saiu de segunda melhor gestão fiscal das capitais brasileiras durante o governo de Eduardo Paes (DEM) para penúltimo lugar na administração Crivella.

Em 2018 o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) acabou eleito governador com uma trajetória digna da obra de Lima Barreto "O Homem que Sabia Javanês". Ambos, ex-juiz e personagem, sem nada entender sobre a natureza de suas empreitadas, inventaram contos fantasiosos a fim de convencer aqueles que lhes ouviam. Ambos sofistas e demagogos. E não tardou para que viesse à tona a incapacidade de gestão e a ética duvidosa do ex-magistrado. Mais uma vez os cariocas haviam ajudado a eleger um sujeito de índole discutível.

Hoje, o cenário político no Rio de Janeiro é muito triste. A cidade está abandonada à própria sorte. Temos um governador afastado, uma polícia que se comporta como quinto poder e um povo que padece em meio à pandemia. Soma-se a isso a figura de um prefeito que não só não trabalha como também organiza grupos de arruaceiros para impedir o trabalho jornalístico. Serviços básicos como coleta de lixo regular deixaram de funcionar.

Se olharmos para o passado veremos que grandes cidades como Nova York também enfrentaram desafios semelhantes. Nos anos de 1973 e 1974, o município americano praticamente decretou falência. Então como nós, cariocas, podemos olhar para a suntuosa Nova York de hoje e reerguer nossa cidade maravilhosa?

Bom, não cabe chegar aqui, em nome das favelas ou em nome dos cariocas, e apresentar uma solução mágica, porque esta ainda não existe. Temos que começar a elaborar a solução, e isso é uma responsabilidade coletiva. Se nós quisermos avançar, sair da retórica e ter resposta concreta, temos que aproveitar o cenário atual para pensar, discutir e começar a formular propostas, possibilidades. Trago aqui apenas alguns pontos para reflexão.

Primeiro, devemos acabar com a idolatria política. Não dá mais para o debate político se engessar apenas em um candidato ou outro. Uma campanha eleitoral apenas preocupada com miudezas personalistas (ainda que possam interessar a certos grupos) não chega a ser uma campanha política. Acaba sendo um exercício de despolitização no qual políticos de esquerda e direita comportam-se como microempresas que tratam as eleições como se fossem apenas um mercado de votos e não uma solene ocasião para discutir projetos de sociedade.

O segundo ponto é pensarmos para além dos problemas. Nesse sentido, a politização não pode ser pensada simplesmente num alargamento indefinido de reivindicações. Não adianta muito elaborar plataformas de reivindicações listando tudo aquilo de que a população necessita. O fundamental é impulsionar mecanismos que tornem públicos os conhecimentos sobre as possibilidades de alteração dos serviços municipais e estimulem a população a controlá-los.

O terceiro ponto que, de alguma maneira, organiza os dois anteriores e lhes dá sentido: é o controle popular. Sem controle não há participação. O controle tem relação não apenas com quem exerce o poder, e o que faz quando se está no poder, mas também como se exerce o poder. Refere-se aos núcleos fundamentais onde se tomam as decisões sobre as prioridades de governo.

A escolha sobre a cidade que queremos no futuro é feita agora. Quanto mais estivermos organizados, conscientes de nossos direitos e determinados a lutar por eles, tanto mais as políticas municipais atenderão nossas demandas. Caso contrário, essas políticas se tornarão instrumentos de dominação e de controle social das massas.


Salvino Oliveira, 22, é gestor público, coordenador do PerifaConnection, assessor da Ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e cofundador do Projeto Manivela.

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