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PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias. Feita por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento

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Descrição de chapéu LGBTQIA+

De TRANSaliados a silenciadores

Discursos que não contemplam pessoas trans e outros grupos minorizados fortalecem conservadorismo

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Eloá Rodrigues

Modelo, atriz, miss Beleza T Brasil 2020. Estudante de ciências sociais pela UFF e ativista transfeminista

Rahzel Alec da Silva

Graduando em Relações Públicas na UERJ, idealizador do Laboratório da Comunicação Transimersiva e colaborador do PerifaConnection

No mês em que se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos, enfrentamos novamente o silenciamento causado pela transfobia de quem não aceita os avanços conquistados pelas travestis, mulheres e homens trans, não binários e pessoas intersexo.

Embora dezembro traga a reflexão sobre as conquistas sociais, evidencia também quanta abertura a cisgeneridade --pessoas cuja identidade de gênero corresponde ao gênero que lhe foi atribuído no nascimento --tem para deslegitimar os poucos avanços obtidos, sobretudo por homens trans, transmasculinos e não binários que menstruam.

Luca Scarpelli, que tem a página chamada Transdiário, contou como a menstruação sempre foi um grande problema na sua vida, que causava desconforto e angústia - Karime Xavier/Folhapress

Fora a carência de políticas públicas e a ausência de termos inclusivos, vivemos em uma sociedade que não só desumaniza pessoas trans, como também detém o poder de alavancar uma disputa de narrativas pela emancipação de corpos que não deveriam depender da aprovação social para existir com dignidade.

E nessa disputa corrosiva compreendemos que lideranças de grupos que foram historicamente minorizados podem buscar espaço para discursar sobre seu processo de emancipação sem exercerem seu lugar de escuta.

É importante que a comunidade cis, sobretudo o poder público, educadores e jornalistas, avaliem que os discursos que não contemplam a existência de pessoas trans, pessoas negras, pessoas com deficiência, da periferia e de outros diversos grupos minorizados, podem ser utilizados como munição para fortalecimento do conservadorismo, que utiliza da fragilidade para desmobilizar, e esvaziar a luta pela garantia de direitos no Brasil.

Dada a dificuldade que é avançar na conquista de cada direito, os "incômodos" incutidos pela cisgeneridade em relação ao respeito à identidade de gênero, assim como o desdém com o uso de pronomes neutros e esvaziamento dos termos que visam tornar a vivência em consultórios de saúde uma experiência menos nociva, dão continuidade a um CIStema que condiciona nossos corpos aos diversos moldes de marginalidade já existentes.

As pautas sociais do feminismo negro e do movimento LGBTQIA+ têm um papel fundamental no combate ao machismo, misoginia, racismo e LGBTfobia, e autores e pesquisadores brasileiros como João W. Nery, Jaqueline Gomes de Jesus e Leonardo Peçanha dão visibilidade aos lugares e os níveis de marginalização que corpos de travestis e transmasculinos negras e negros de periferia, como os nossos, são condicionados.

É fundamental perceber a ruptura que se dá quando as pessoas trans não aceitam serem categorizadas pela cisgeneridade. Por meio dessa contranarrativa, estamos criando novas possibilidades de existência e questionando as teorias antes irrefutáveis e, assim, rompendo com o imaginário social que foi criado sobre nossas vivências e nos colocando em lugares impensáveis.

O debate sobre "pessoas que menstruam" não é só um debate sobre qual o melhor termo a ser utilizado. Estamos falando sobre vidas precarizadas, pessoas que não têm acesso à saúde básica por causa da recusa de uma massa de médicos, pesquisadores, doutores e políticos em atender as falas de uma comunidade que ainda está lutando por direito à vida. Importante destacar o papel dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada.

É por meio deles que as pesquisas e políticas públicas são pensadas, partindo das necessidades trazidas pela população por meio de fóruns, conselhos e mobilizações.

Por isso a importância de reconhecer a atuação de coletivos e movimentos sociais como o Ibrat (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades), a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), o Fonatrans (Forúm Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros), entre outros, que seguem na produção do conhecimento e debates que visibilizam nossos reais problemas.

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