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Descrição de chapéu desmatamento

Cúpula da Amazônia não é a cúpula de Belém e Diálogos Amazônicos não devem ser monólogos

Evento excluiu regiões amazônicas e deixou vozes locais às margens de discussões

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Vitória Galvão

Ponto focal da ONU na América Latina e Caribe, diretora da Palmares Lab/PerifaConnection e COP das Baixadas

Waleska Queiroz

Integrante da Rede Jandyras e colaboradora do PerifaConnection

Hannah Balieiro

Bióloga, diretora executiva do Instituto Mapinguari e membro da comissão executiva da COP das baixadas

Nos dias 4, 5 e 6 de agosto, Belém sediou os Diálogos Amazônicos, evento que reuniu diversas iniciativas da sociedade civil com o objetivo de promover discussões cruciais sobre a região amazônica e elaborar novas estratégias para o seu desenvolvimento.

Participaram representantes de entidades, movimentos sociais, a academia, centros de pesquisa e agências governamentais do Brasil e de outros países amazônicos. Apesar de ter sido realizado na própria Amazônia, nem todas as vozes e realidades da região estiveram adequadamente representadas no evento.

Cerimônia de abertura dos Diálogos Amazônicos, em Belém
Cerimônia de abertura dos Diálogos Amazônicos, em Belém - Audiovisual/PR

Embora os Diálogos Amazônicos tenham sido idealizados para empoderar a população local e proporcionar um espaço de protagonismo para as questões da região, desde o início se tornaram evidentes os desafios para a participação efetiva desses indivíduos.

Desde o processo de inscrição até a estruturação do evento, muitas organizações locais enfrentaram dificuldades logísticas, como a complexidade do deslocamento entre os espaços do evento. Esse cenário resultou no esvaziamento de plenárias e mesas de discussão importantes, prejudicando o engajamento.

O evento que se propôs a ser um diálogo teve estrutura de monólogo, mesmo que a proposta inicial fosse uma escuta ativa da sociedade civil para incidir na Cúpula dos Países Amazônicos, que viria a seguir.

A Cúpula reuniu apenas os líderes dos Estados Membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, em 8 e 9 de agosto.

Outra questão observada foi a centralização das discussões nas problemáticas específicas de Belém, limitando a abordagem de temas estratégicos e mais abrangentes relacionados à Amazônia.

Embora a cidade seja uma parte crucial da região, o direcionamento restringiu a oportunidade de uma análise mais profunda e holística dos desafios enfrentados por toda a região amazônica.

Paralelamente aos Diálogos Amazônicos e à Cúpula da Amazônia, eventos marcam uma nova fase na política federal e nas relações internacionais do governo brasileiro. Há ainda um longo caminho a percorrer para que o país esteja preparado para sediar uma COP (Conferência das Partes).

Indígenas, ribeirinhos, quilombolas e moradores das cidades indicaram seus anseios para as políticas públicas durante os  Diálogos Amazônicos
Indígenas, ribeirinhos, quilombolas e moradores das cidades indicaram seus anseios para as políticas públicas durante os Diálogos Amazônicos - Audiovisual/PR

Embora progressos tenham sido feitos, a participação real e efetiva das vozes locais nas discussões mais influentes ainda é uma meta distante.

A falta de representatividade também se fez notar na Cúpula dos Chefes de Estado, onde as diversas propostas, agendas e recomendações de organizações e movimentos da sociedade civil ficaram à margem das discussões centrais.

Ações estratégicas que ocorrem organicamente nos territórios, como a Cúpula dos Povos da Floresta, a COP das Baixadas e eventos significativos, como o lançamento da Aliança Jovem por Governança Energética na Amazônia, que envolve mais de cinco organizações de jovens da região, foram marginalizados.

Para fortalecer verdadeiramente as vozes da Amazônia —incluindo sua população e seus defensores—, é imperativo que essas vozes não sejam apenas ouvidas, mas sejam também integradas às conversas e decisões de maior relevância.

A diversidade de perspectivas e soluções é fundamental para enfrentar os desafios urgentes da região. À medida que a busca por um futuro mais sustentável para a Amazônia continua, é essencial garantir a inclusão e participação plena de todas as suas vozes e juventudes.

A principal mensagem que as organizações amazônicas transmitiram nos eventos que antecedem o planejamento da COP 30, que é o foco central de toda essa mobilização, é que não estamos mais dispostos a aceitar que nosso corpo-território seja percebido somente como a representação de uma distante Amazônia, necessitando de salvação.

Em vez disso, buscamos que ele seja compreendido como uma região rica em potencialidades e capaz de se expressar por si mesma. Nosso pensamento vai além da COP 30, estamos olhando para o futuro.

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