No segundo turno das eleições presidenciais de 2018, Mano Brown fez um discurso em ato de campanha do então candidato Fernando Haddad, no qual apontava a perda de vínculo das forças progressistas com as bases da sociedade, suas novas vozes, dinâmicas e expectativas.
De lá para cá, sabemos o desenrolar da história. Felizmente, foi possível superar a pandemia, o desgoverno e as aspirações golpistas de Jair Bolsonaro.
O Brasil avançou na restauração da coesão no campo democrático brasileiro. Defendemos os legados históricos de construção da cidadania e o Estado de Direito. Reafirmamos compromissos civilizatórios e conseguimos colocar o país no rumo certo.
Mas sabemos também o quanto foi por pouco. A vitória de Lula em 2022 atestou a capacidade do país de resistir a ataques e produzir união em torno da democracia.
No entanto, a margem mínima que levou Lula ao Planalto novamente e o saldo das eleições parlamentares e estaduais nos mostraram que a agenda conservadora ainda deve nos preocupar.
O desfecho da eleição presidencial revela mais das forças e limites individuais de Lula e Bolsonaro do que de uma infraestrutura cívica sólida capaz de defender a equidade, a diversidade e a sustentabilidade.
Para os que aspiram a esses objetivos, segue sendo decisivo não esquecer disso e da centralidade do chamado de Mano Brown em 2018.
Para superar a extrema direita no país, será fundamental que o novo governo tenha êxito na reconstrução da democracia e seus fundamentos, para o desenvolvimento justo e sustentável.
Também é preciso seguir na atualização de agendas em face dos desafios do país e do planeta, na renovação de vozes e na costrução de elos genuínos com toda a sociedade.
Faz-se necessário, ainda, valorizar e apoiar novas lideranças nos diversos segmentos sociais, ampliando caminhos para a renovação geracional e de representatividade na nossa cena pública.
Temos que sedimentar e difundir respostas comuns para desafios coletivos, como a emergência climática, a qualificação de políticas e serviços sociais, a segurança pública, a apropriação positiva das novas tecnologias, a economia do século 21.
Precisamos intensificar ações no intuito de superar desigualdades, aprofundar a democracia e promover o desenvolvimento sustentável, além de amadurecer e disseminar novos modos de ação no debate público para a afirmação exitosa dessas vozes e agendas de forma ampla.
Tudo isso, felizmente, vem se fazendo aos poucos pela ação de atores no universo progressista, a partir das lições amargas de 2018. Mas a mudança não vem de Brasília, ela vai a Brasília.
É preciso seguir dedicando energia à ação cotidiana em cada ponto do país. E, desde já, preservar e renovar a mobilização e a coesão para a ação articulada nas eleições municipais de 2024, confirmando o ganho de terreno democrático no âmago da sociedade, além de avançar na reafirmação de pautas cidadãs e na renovação virtuosa do universo político.
Assim como o chamado à reconexão com as experiências do país real, é vital não esquecer em nenhum momento: para além de seu conteúdo trágico, o bolsonarismo é expressão de frustrações e lacunas profundas na nossa experiência coletiva. Enquanto não completarmos a tarefa de supri-las, o risco de recaídas na tentação de "mitos" reacionários e fraudulentos seguirá presente.
Aqueles que se nutrem disso estão já produzindo novos nomes e bases para 2024 e 2026. Até quando o campo progressista será surpreendido e reativo às agendas conservadoras? Precisamos dar um passo à frente.
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