Por quê?

Especialistas da plataforma Por Quê?, iniciativa da BEĨ Editora, traduzem o economês do nosso dia a dia, mostrando que a economia pode ser simples e divertida.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Por quê?

Eu (não) sou você amanhã

Argentina e Brasil passaram por medidas para conter inflação; sociedade deve se manter vigilante para evitar retrocessos e garantir reformas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

"Eu sou você amanhã." O alerta vinha seguido do slogan: "Pense em você amanhã, exija Orloff hoje." A mensagem da propaganda de vodca veiculada nos anos 80 era evitar a ressaca do dia seguinte. 

Nesse mesmo período, tanto no Brasil como na Argentina, as equipes econômicas se alternavam procurando tirar das mangas o plano que iria conter a inflação que assolava os dois países.

Na Argentina, o Plano Austral, de junho de 1985, optou pelo congelamento de preços, tarifas e salários. O congelamento acabou por distorcer os preços relativos da economia e afetar o abastecimento de produtos básicos como a carne.

Alguns ajustes ao plano foram feitos em fevereiro de 1986, mas já em agosto de 1986 estava claro que o congelamento de preços não funcionara. Em 1987 a crise econômica se agrava, com a inflação se acelerando e o governo argentino enfrentando grandes dificuldades fiscais.

O ministro Paulo Guedes (Economia) durante solenidade em comemoração ao dia Internacional do Voluntariado, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 2.dez.19/Folhapress

Em agosto de 1988, o plano Primavera foi a última tentativa do governo Raul Alfonsín de controlar a inflação, mas sem sucesso. 

Enquanto isso, o Brasil acompanhava seus hermanos por um caminho curiosamente parecido. Em março de 1986, o Plano Cruzado congelava preços e salários. Assim como na Argentina, a dificuldade em se fixar preços relativos gerou graves distorções e desabastecimento.

Ajustes ao Plano Cruzado foram feitos em novembro de 1986 (plano Cruzado 2), e um novo plano em junho de 1987 (Plano Bresser) repete o controle de preços, mas sem resultado. A crise econômica se agrava em 1987, e o governo brasileiro tem dificuldades em pagar a dívida externa.

 

Em janeiro de 1989, o Plano Verão foi a última tentativa do governo José Sarney de tentar controlar a inflação pelo controle de preços, novamente sem sucesso. 

A sequência de insucessos compartilhados pelos dois países ficou conhecido como efeito Orloff: “O Brasil é a Argentina amanhã.” Ou seja, para saber o que iria acontecer no Brasil, bastava ver o que tinha acontecido na Argentina.

Os anos 80 ficaram para trás, mas as incertezas políticas e econômicas não. 

Na Argentina, o governo de Mauricio Macri não conseguiu implementar as reformas necessárias para colocar o país no caminho do crescimento econômico e da estabilidade social. Como resultado, perdeu as eleições deste ano para o peronista Alberto Fernandez, que tem como vice a ex-presidente com forte viés populista Cristina Kirchner. 

Algumas das primeiras medidas adotadas pelo novo governo argentino lembram as medidas inusitadas dos anos 80: imposto de exportação sobre o setor mais produtivo da economia, multa para demissão sem justa causa para conter o desemprego e controle das tarifas dos serviços públicos. Tudo indica que a ressaca será brava na Argentina, infelizmente.

Já no Brasil, a situação atual da economia permite imaginar um descolamento do efeito Orloff. No entanto, é importante que a sociedade permaneça vigilante para evitar retrocessos e garantir que as reformas econômicas que o país necessita sejam rapidamente implementadas.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.