Preto Zezé

Presidente nacional da Cufa, fundador do Laboratório de Inovação Social e membro da Frente Nacional Antirracista.

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Preto Zezé

A agenda da favela merece um ministério

Embora todos sejam iguais perante a lei, sabemos que a lei não é igual para todos

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Mais um massacre em favela. Os comentários, os diagnósticos, as cores, os CEPs e as classes são as mesmas, todas de favelas. O Estado democrático de Direito inexiste. Nem ordem da Suprema Corte é respeitada sobre "ações" de guerra nas favelas. A quem recorrer?

Um homem é asfixiado até a morte numa viatura transformada em câmara de gás; mal deu tempo de chorar a perda de vidas e a barbárie segue a passos largos. E choramos por justiça, o país segue sob sangue e corpos. A quem recorrer?

As favelas de Alagoas e Pernambuco estão debaixo d'água. As mesmas áreas de sempre, com as mesmas questões de injustiça climática, que condenam pretos e pobres a morarem em condições indignas. Entram e saem governos e as cenas se repetem, não somente nesses estados, mas no país inteiro. A quem recorrer?

Citei esses exemplos para ilustrar como estamos por nossa própria conta e, embora todos sejam iguais perante a lei, sabemos que a lei não é igual perante todos. E a conveniência vem na forma de silêncio dos insensíveis, deboche dos que deveriam zelar pela vida e muita indignação dos parentes e amigos das vítimas, que muitas vezes só têm a si para consolar.

Não se veem janelas com lençóis brancos, passeatas com símbolos da paz com líderes empresariais e políticos, caminhadas em bairros nobres, editoriais de jornais e revistas entrando em luto coletivo, para fazer desse momento um movimento para mudança.

O ativista Celso Athayde esteve em Davos, no Fórum Econômico Mundial, recebendo o Prêmio de Empreendedor do Ano. Sugeriu aos ministros da Economia de vários países um debate sobre o Quarto Setor, provocação sugestiva que ele faz, sobre como a favela pode pautar suas agendas e construir suas soluções a partir de uma outra relação com a geração de riqueza e o papel do lucro.

Incorporando a provocação, vou além: chegou a hora de a favela ter espaço institucional no Estado. Por mais bem intencionados que sejam, políticos e gestores não sentem na pele o que é viver onde o Estado inexiste, onde nem mais o monopólio da força o Estado tem. Onde entendemos demais de crise e Estado mínimo, porque ele simplesmente é ausente ou seus serviços são precários, mesmo com o favelado pagando a mesma carga tributária do asfalto e não recebendo o retorno dos impostos pagos na fonte.

Candidatos e partidos estão negociando seus interesses neste momento. Nada mais legítimo que negociarmos os nossos também. Temos nas favelas intelectuais, experiências, soluções e gente capaz de construir uma nova dinâmica de governança na relação do estado, da política, das empresas e do poder real com a favela.

A agenda das favelas exige um espaço institucional no ministério. Por que não?

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