Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Priscilla Bacalhau
Descrição de chapéu machismo feminicídio

Eu não quero ser feminista

O que muitos talvez não percebam é que não há uma única forma de ser feminista

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A ideia de feminismo assusta muitas pessoas, pois o movimento é visto como extremista, antifeminino e de ódio aos homens. O rótulo de "feminista" é rechaçado por homens e mulheres, e qualquer reivindicação que venha desse movimento não é aceita.

O que talvez não percebam é que não há uma única forma de ser feminista. Mas há em comum entre as diferentes vertentes a busca por igualdade social e econômica entre homens e mulheres. Se uma pessoa acredita que todos devem ter acesso às mesmas oportunidades independentemente de como nasceu, essa pessoa pode ser um pouco feminista e não sabe.

No Brasil, a igualdade jurídica entre os sexos vem sendo conquistada paulatinamente. Há um século não podíamos votar e apenas na Constituição de 1988 foi estabelecida a igualdade em direitos e obrigações. Essa igualdade constitucional, porém, não se transmite de forma imediata nos costumes e cultura.

A desigualdade entre os sexos é observada desde cedo. Normas sociais de gênero pressionam meninas a amadurecerem e a serem responsáveis por sua própria proteção a assédios e violências sexuais, que ocorrem majoritariamente dentro de casa. Meninas fazem mais tarefas domésticas em comparação com meninos. Trabalho doméstico, pobreza menstrual e gravidez na adolescência levam jovens ao absenteísmo e ao abandono escolar.

As desigualdades persistem no mercado de trabalho. Mesmo quem conclui os estudos tem menores retornos no salário do que os pares do sexo masculino. As causas para diferenças salariais residem não apenas na discriminação de gênero mas na escolha ocupacional. Mulheres tendem a optar por profissões que oferecem mais flexibilidade de horas, de forma a conciliar com a família. Essas profissões são também as que pagam menos.

Os reforços dos estereótipos de gênero em casa, na escola, na televisão e em todos os ambientes levam mulheres a carreiras menos remuneradas e prestigiadas. A falta de representatividade feminina dificulta a entrada de outras mulheres em espaços de poder —o Senado, por exemplo, não tinha nenhum banheiro feminino até 2015. A desigualdade entre os sexos no mercado de trabalho, combatida pelo feminismo, afeta toda a sociedade, inclusive por meio de menor crescimento econômico.

O reconhecimento legal da igualdade é fundamental, mas insuficiente. É preciso haver políticas públicas que promovam e gerem incentivos para tratamento igualitário entre os sexos, como licença parental, creches e programas educacionais que mudem a percepção sobre o papel da mulher na sociedade. Assim pode-se chegar a uma sociedade em que o feminismo não seja mais necessário.

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