Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Carnaval é coisa séria

Folia é a oportunidade que muitos dos cidadãos das nossas cidades têm de ocupar as ruas

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Não lembro quando o carnaval começou a fazer parte da minha vida, mas eu era bem criança. Foram muitos anos nas aglomerações de bairro, jogando água em quem passava na rua, pedindo dinheiro com a La Ursa, nos blocos de rua infantis nas ladeiras de Olinda. Eu devia ter uns 12 anos quando fui levada para o Galo da Madrugada e passei um aperto no maior bloco do mundo que me traumatizou por duas décadas.

No pique do frevo, eu demorei a entender que as pessoas não vivenciavam o mesmo carnaval que minha família e eu. Por que ir para a praia ou viajar durante o período? Por que ir para camarote, se o povo todo está na pipoca? Por que beber além do ponto, se você corre o risco de acabar perdendo um dia de folia? Por que só assistir a um desfile, se você pode participar dele?

Mas os nossos carnavais são muito mais diversos do que a minha ignorância permitia aceitar. Nossos carnavais vão muito além dos sambas, apesar de os principais noticiários nacionais ainda insistirem em dar mais tempo de tela aos desfiles das escolas de samba. Têm maracatu, afoxé, axé, frevo, coco, ciranda, boi, marchinhas, funk e pagode, para citar alguns ritmos presentes entre os brincantes. Nossos carnavais estão na rua, em casa, no palco, no galpão, na avenida e no trio.

O carnaval é a oportunidade que muitos dos cidadãos das nossas cidades têm de ocupar as ruas. Dada a escassez de planejamento urbano, muitas vezes pensado apenas para carros, são poucos os dias em que essas ruas são do povo.

Carnaval é cultura, é diversidade, é resistência, é a expressão popular de um encantamento coletivo. Carnaval é um arrebatamento.

E para fazer tudo isso acontecer, tem muito trabalho por trás. É preciso planejamento, orçamento e política pública. Carnaval é muito mais do que uma festa, carnaval é coisa séria.

A rede hoteleira e todo o setor turístico são positivamente afetados na época. Milhões de trabalhadores temporários garantem renda extra no período. Em especial, catadores de material reciclável que aproveitam os dias de folia para viabilizar a principal renda do ano, sem muitas alternativas.

Não gostar de estar na folia é compreensível, mas menosprezar o carnaval é ignorar a relevância da expressão cultural para um povo e para a sua economia. Pelo seu valor histórico e artístico, o carnaval desempenha um importante papel na preservação de tradições e práticas culturais, e isso pode ser reforçado por meio da educação.

O carnaval é uma expressão diversificada da cultura, proporcionando às pessoas uma oportunidade de celebração, expressão e conexão social. E que comece a contagem regressiva para 2025.

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