Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Priscilla Bacalhau

Para quando o Carnaval passar

Melhorar a vida dos desfavorecidos é papel da democracia, antes e depois da folia

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"Estou em frente à igreja de São Pedro" ou "A gente se encontra na esquina do fiteiro, do lado do vendedor de cerveja".

Era assim que eu tentava encontrar meus amigos nos Carnavais de Olinda e Recife durante a minha adolescência. Nem sempre éramos bem-sucedidos, mas fomos evoluindo as técnicas ao longo dos anos.
Agora, após dois anos sem Carnaval, eu, meus amigos e nossas cidades pudemos enfim brincar a folia de Momo novamente. Havia muito a celebrar.

Carnaval no Centro Histórico de Olinda - Lucio Tavora - 21.fev.23/Xinhua

Milhões de pessoas celebraram a alegria de retornar com seu bloco à rua. Outras festejaram a vida, em memória das quase 700 mil mortes por Covid-19 em três anos de pandemia. Há quem tenha ido às ruas para exaltar a democracia, como os foliões do bloco Eu Acho É Pouco, em Olinda, ou Daniela Mercury, em seu trio elétrico em Salvador.

Me pergunto ainda como passaram o Carnaval os personagens do documentário "Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar", de Marcelo Gomes, de 2019. O filme mostra pessoas que trabalham até 18 horas por dia durante todo o ano produzindo jeans no agreste pernambucano e, quando chega o Carnaval, vendem até eletrodomésticos para curtir no litoral. Será que conseguiram aproveitar este sopro de liberdade carnavalesca?

Cena do documentário 'Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar', de Marcelo Gomes
Cena do documentário 'Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar', de Marcelo Gomes - Reprodução

Mas nem só de folia vive um Carnaval. Segundo a Prefeitura do Recife, por exemplo, 50 mil postos de trabalho temporário foram criados neste retorno e R$ 2 bilhões injetados na economia local. Para quem depende do trabalho informal, os dias de festa são uma ótima oportunidade para catar mais latinhas para reciclagem ou vender mais cerveja ou artesanato.

Muitas vezes, trata-se de população em situação de vulnerabilidade e que é, portanto, mais afetada por crises socioeconômicas. A volta do Carnaval para elas representa uma chance de faturar recursos indispensáveis para sua sobrevivência, num ciclo que se repete a cada ano —ou demora três anos, em caso de pandemia.

Depois do Carnaval, o ano recomeça. Alunos voltam às aulas, o ritmo de trabalho volta ao regular. Para o poder público, há também o retorno aos trabalhos. Esperamos que a volta do Carnaval depois dos anos de hiato tenha dado energia necessária para os governantes.

Além de técnicas para se encontrar no meio do Carnaval, é preciso evoluir no modo de fazer política pública para garantir o direito à cultura, educação, assistência social e trabalho digno.

Melhorar as condições das populações menos favorecidas é papel da celebrada democracia, antes ou depois da folia. Porque, hoje, trabalhadores informais voltam à luta diária de não saber como será o dia de amanhã, enquanto aguardam, esperançosos, pelo próximo Carnaval.

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