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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Estaduais servem para que novos torcedores entendam valor de ganhar e dor de perder

Uma geração festejará hoje, mesmo sonhando com resultados expressivos no resto da temporada

 

Fábio Carille encomendou um quadro ao artista plástico Homero Ribeiro, exatamente um ano atrás, para retratar seu primeiro troféu como técnico: o título paulista. À parte ser seu debut como vencedor, não foi exagero de Carille, nem mesmo por ser uma conquista estadual.

Ganhar é sempre inesquecível.

“É importante e estamos muito felizes.”

A frase acima descreve a alegria de um treinador depois de conquistar seu 21º troféu. Era Pep Guardiola, em referência à Copa da Liga, primeira taça no Manchester City depois de 19 meses de trabalho.

Das quatro disputas do calendário inglês, a conquista de fevereiro é a menos relevante, mas levou à final de Wembley mais público do que qualquer partida do Campeonato Inglês na temporada: 85 mil. O Tottenham joga esta temporada em Wembley e seu recorde foi de 83 mil no clássico contra o Arsenal.

Os exemplos acima servem para tentar destruir novos dogmas do velho futebol brasileiro. Há 15 anos, repete-se que estadual não é parâmetro. Desde o início do Brasileiro por pontos corridos, houve 15 campeões. Um terço deles ganhou o estadual no mesmo ano —Cruzeiro 2003 e 2014, Flamengo 2009, Fluminense 2012, Corinthians 2017. Outros três vices em seus estados ganharam o maior troféu nacional —São Paulo 2006, Corinthians 2011, Cruzeiro 2013.

Não quer dizer que ser campeão paulista seja mais importante do que ganhar o Campeonato Brasileiro ou a Libertadores. Há hierarquia nos troféus e o estadual está no fim da fila. Isso não valida desprezar a conquista.

Uma coisa é rediscutir o calendário. Ponderar que no Brasil os clubes que mais entram em campo jogam 20 partidas a mais do que os ingleses e espanhóis e esta diferença é exatamente o número de jogos nos torneios regionais.

Também é fato que as federações sobrevivem dos campeonatos que promovem e seus presidentes mantêm a estrutura política do futebol brasileiro. Nada disto exclui a importância de gritar campeão.

O Palmeiras ganhou quatro títulos nos últimos dez anos, um Paulista, duas Copas do Brasil e um Brasileiro. Nos últimos 40 anos, deixou de ser recordista de troféus em seu estado para dividir com o Santos a segunda colocação. Uma geração vai festejar hoje, mesmo sonhando com resultados expressivos na sequência da temporada.

Isso vale para botafoguenses e vascaínos, de poucas chances nos torneios nacionais, para gremistas, sem títulos na aldeia desde 2010, para cruzeirenses e atleticanos, tricolores e rubro-negros na Bahia, remistas e bicolores no Pará...

O que o futebol mais ensina é o valor de ganhar e a dor de perder. Metáfora da vida.

“Fizemos uma boa temporada até aqui e precisamos continuar assim”, disse o belga De Bruyne na festa da Copa da Liga. Até para quem julga que o estadual não vale nada, é preciso reforçar o que vale: seu time!

O Botafogo, o Vasco, o Atlético, o Cruzeiro, o Palmeiras, o Corinthians. Se estão em campo, vale muito.
O grito de campeão também vale, porque permite ao pai feliz avisar ao filho que o pequeno fanático torce para um time que erguerá um troféu neste domingo. Essa nova geração seguirá torcendo por clubes do Brasil.

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