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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Brasil de 1982 era um timaço, mas tinha problemas táticos graves

Entre perder como em 82 ou vencer como em 94, é preferível ganhar como em 1970

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Rever os jogos da seleção de 1982, reprisados pelo SporTV entre terça-feira (7) e sábado (11), faz perceber as lendas repetidas nos últimos 38 anos. O Brasil de 1982 era um timaço individualmente, uma geração de ouro, mas tinha problemas táticos graves.

Entre eles, a incapacidade de abrir espaços pelas laterais, quando a marcação obrigava a jogar pelo meio. Além de rever os jogos, um bom exercício é procurar no YouTube o programa Roda Viva, da TV Cultura, em que Telê Santana é entrevistado cinco dias depois de ganhar a Libertadores de 1992.

Roberto Avallone pergunta a Telê Santana como fazer para fugir da síndrome do contra-ataque, porque, segundo o jornalista, todos os times jogavam desta forma. Durante o programa, Telê diz que o São Paulo de 1992 caiu de produção em comparação com 1991 e fala que os problemas para achar espaço nas defesas devem-se, também, à falta de cobrança dos treinadores brasileiros.

Parece o filme “Feitiço do Tempo”, em que Bill Murray acorda todas as manhãs na mesma cena e os dias se repetem do mesmo jeito.

Há mentiras que viraram verdades absolutas depois da derrota de 1982. Uma delas é a de que o Brasil começou a preferir o futebol defensivo, porque perdeu jogando para a frente. Se fosse assim, os campeões brasileiros dos anos seguintes à Copa do Mundo da Espanha não seriam times ofensivos, como o Flamengo de 1983 e 1987, o São Paulo de 1986 ou o Bahia de 1988.

Se o futebol defensivo tivesse nascido no Brasil depois da derrota do Sarriá, o São Paulo não teria escalado o meia defensivo Viana para marcar Toninho Cerezo na final do Brasileiro de 1977. Se fosse verdade, a seleção teria encantado nas Copas de 1974 e 1978, o que não aconteceu, e Telê jamais seria chamado de volta para dirigir o Brasil no México, em 1986.

Também existe um falso dilema, repetido exaustivas vezes: você prefere ganhar como em 1994 ou perder como em 1982?

Na Argentina, onde também se discute Menotti x Bilardo, ataque x defesa, o dualismo faz mais sentido, porque os argentinos venceram apenas duas Copas. O Brasil venceu cinco. Entre perder como Telê ou vencer como Parreira, é preferível ganhar como em 1970, seis vitórias em seis jogos e com o melhor ataque.

Ou como em 2002. Foram sete vitórias nos sete jogos, feito inédito na história das Copas do Mundo, e ainda com o artilheiro e o maior número de gols (19).

Um ano antes da vitória sobre a Alemanha, reprisada pela Rede Globo neste domingo (12), o Brasil perdeu de Honduras. Parecia que o fundo do poço tinha sido alcançado e que ainda se estava cavando mais, para chegar mais perto do fim do futebol brasileiro.

Também foi assim antes do tetra, quando o Brasil perdeu o primeiro jogo de eliminatórias, na Bolívia, em 1993.

Os brasileiros amantes de futebol sabem bem do que gostam. Quando se diz que não se liga mais para a seleção, há um contraste evidente. Tanto pelos xingamentos na derrota, quanto agora pelos comentários das reprises.

Ninguém aplaude ou xinga quem lhe é indiferente.

A seleção de 1982 merece seu lugar na história. Era brilhante. Mas tinha problemas de estrutura como equipe e abusava do jogo centralizado, razão pela qual foi derrotada pela Itália. Também as seleções vencedoras tiveram méritos e mereceram vencer.

Hoje, o mais difícil é montar uma seleção capaz de ganhar e encantar, com tantos jogadores longe do país.

É o desafio de Tite para alegrar um país que ama o futebol na primeira Copa pós pandemia.

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