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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Johan Cruyff foi o maior pensador do futebol

Final do Mundial de 1992, entre São Paulo e Barça, faz parar de pensar em Guardiola

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Sabe quando a gente se espanta por que Guardiola escala um time sem zagueiros? Com três homens na defesa, mas nenhum beque de origem, como quando coloca Fernandinho atrás do meio-de-campo.

Rever a final do Mundial Interclubes de 1992, entre São Paulo e Barcelona, faz parar de pensar em Guardiola e lembrar de Johan Cruyff.

O maior pensador do futebol mundial.

Foi parceiro de Rinus Michels e professor de Guardiola. Naquele São Paulo e Barcelona, o Barça não foi bem e Telê Santana o matou.

Mas o conceito do futebol moderno está todo ali, na formação do Barcelona derrotado.

O sistema era 3-4-3, em teoria, mas a movimentação não cessava. Dos três atrás, Ronald Koeman era o líbero. Qualidade de passe, saída de bola cuidadosa. Ferrer tinha formação de lateral direito e 1,70 m de altura. O holandês Richard Witschge jogou de terceiro beque. Era meia.

O losango de meio-de-campo começava com um volante de especial qualidade: Pep Guardiola. Mais perto dos atacantes figurava Bakero, que invertia de posição com Michael Laudrup, dinamarquês que, por ser meia, entrava em diagonal para se aproximar de Stoitchkov.

O búlgaro era, digamos, o falso centroavante.

Ah, falso centroavante. Por que precisa ser tratado assim, apenas por saber jogar e explorar os espaços saindo de perto da área e dos zagueiros? Por que, se Sindelar fazia isto na Áustria de 1934, Hidegkuti na Hungria de 1954 e se na Holanda do futebol total este papel era desempenhado por Cruyff?

E se Tostão, que vive nos dizendo que era centroavante em 1970, sabia circular pelos espaços vazios na Copa do Mundo do México?

Cruyff não usava uma centroavante-cone na final do Mundial de 1992. E nem Telê Santana escalava assim, naquele 13 de dezembro, em Tóquio.

Das três seleções encantadoras que não venceram Copas, Hungria-1954, Holanda-1974 e Brasil-1982, só o time de Telê tinha centroavante clássico, de área: Serginho Chulapa. No Mundialito do Uruguai, um ano e meio antes, seu camisa 9 era Sócrates. Bem poderia ter sido escalado assim na Espanha.

Mas Telê não pensou assim em 1982.

Dez anos depois, no Japão, o São Paulo não tinha centroavante. Muller entrava em diagonal da esquerda para o centro e Cafu fazia o mesmo vindo da direita. Raí e Palhinha esvaziavam a área e entravam para fazer os gols. O primeiro anotado por Raí, marcado de púbis, como ele definiu, aconteceu desta maneira.

Muller venceu Ferrer, Raí invadiu o espaço vazio e resvalou na bola para marcar.

Cruyff falou muitas vezes sobre o atacante de mobilidade.

O livro ABC – Ajax, Barcelona, Cruyff– conta um dos debates do histórico pensador do futebol com o técnico da Holanda, Leo Beenhaker, em 1985. Depois de uma vitória sobre o Chipre por 7 a 1, Cruyff criticou. Disse que poderia ter sido 10 a 0. “Você precisa entrar num jogo desses pensando em fazer este placar. Se não der, é outro problema.”

À parte o exagero, discutia mesmo o esquema com dois homens de área, Van Basten e Kieft. Apontava que, num jogo com aquelas características, deveria ter dois homens abertos pelas pontas e dois meias centrais, um deles que se aproximasse mais dos atacantes móveis.

O meia central, mais perto dos avantes, poderia receber o passe vindo de trás para finalizar.

Desenhar aquelas ideias de Cruyff, de 1985, são como uma espécie de 4-1-3-2. Lembra sistema tático do Flamengo de Jorge Jesus, aluno do pensador holandês.

Mas a mobilidade daquela Barcelona contra o São Paulo, em 1992, é muito igual aos times de Guardiola. Quer dizer, Guardiola é muito Johan Cruyff.

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