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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Técnicos negros têm menos oportunidades no Brasil do que estrangeiros

Nos 12 clubes mais tradicionais, há três exceções: Vasco, Botafogo e Cruzeiro

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Vanderlei Luxemburgo responde com uma pergunta sobre se considerar branco ou negro: “Já viu pagodeiro branco?”. Não se mede nenhuma pessoa pela cor da pele e, por isso, ninguém deveria perguntar. Mas Luxemburgo deixa claro que é negro e você entenderá por que, nesse caso, isso importa.

Em outubro do ano passado, o jogo Fluminense x Bahia foi tratado como o único entre dois técnicos negros na Série A, Marcão e Roger Machado. Luxemburgo, porém, estava no Vasco.

O Brasileiro de 2019 também foi o da discussão sobre xenofobia, pela resistência em aceitar o sucesso de Jorge Jesus, o segundo estrangeiro campeão nacional —o argentino Volante venceu pelo Bahia em 1959.

O Brasil é mais xenófobo ou racista?

Dos 58 técnicos da seleção brasileira, só Vanderlei Luxemburgo e Gentil Cardoso são negros. Gentil dirigiu o Brasil no Sul-Americano Extra de 1959, quando a CBD enviou a seleção pernambucana.

A seleção teve o argentino Filpo Nuñez num amistoso contra o Uruguai, em 1965, e o uruguaio Ramón Platero, no Sul-Americano de 1924. Platero como treinador da seleção é uma descoberta do pesquisador Antônio Carlos Napoleão. Por anos, só se soube de Filpo, como único estrangeiro.

Entre a xenofobia e o racismo, o estudo dos maiores clubes brasileiros não deixa dúvida. Dos 12 mais tradicionais, só Vasco, Botafogo e Cruzeiro tiveram número maior de treinadores negros do que estrangeiros. Tratar o Brasil como um país que rejeita o forasteiro é desconhecer nossa história. A do futebol, inclusive.

A missão do técnico estrangeiro aqui sempre foi e sempre será a de trazer novas visões, para que se tenha quanto mais qualidade possível.

A falta de oportunidade para negros é infinitamente maior. Neste país, ela está escancarada desde 1535, data da chegada do primeiro navio de escravos, de acordo com o livro "Escravidão" (2019), de Laurentino Gomes.

“Negros e pardos —classificação que inclui mulatos e uma ampla gama de mestiços— representam 54% da população brasileira, mas sua participação entre os 10% mais pobres é muito maior, de 78%. Na faixa dos 1% mais ricos da população, a proporção inverte-se. Nesse restrito e privilegiado grupo, somente 17,8% são descendentes de africanos”, escreve Laurentino Gomes.

O país tem uma dívida com essa camada da população. No mundo da bola, é possível fazer observações. Toda vez que alguém compara fotos das seleções de 1958 com as mais recentes, observa que o time ficou mais branco.

Não é verdade absoluta. Ficou mais miscigenado. Neymar é filho de negro com branca, Ronaldo Fenômeno também. Rivaldo, Ronaldinho, Cafu, Roberto Carlos, Gabriel Jesus, Firmino, todos são brasileiros.

“Sou filho de pai alemão, mas minha mãe era cabocla, meio negra ou meio índia, do interior de Vacaria, no Rio Grande do Sul”, diz Celso Roth. “Nunca me fiz esse questionamento. Se você disser que sou negro, eu sou. Se disser que sou branco, também, por causa de meu pai.”

Roth é um dos três únicos técnicos negros do Inter, que teve 14 estrangeiros. Um dos cinco negros do Grêmio, que teve o mesmo número de estrangeiros.

A conta segue com Corinthians (8 negros, 12 estrangeiros), Palmeiras (3 e 16), São Paulo (2 e 15), Santos (6 e 17), Flamengo (10 e 11), Fluminense (10 e 15) e Atlético-MG (7 e 12).
Só muda com o Vasco (5 estrangeiros e 12 negros), Botafogo (7 e 11) e Cruzeiro (4 e 8).

O intercâmbio de culturas e etnias faz mais do que o futebol melhorar. Faz o mundo ser melhor.

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