A principal diferença entre o embrião da liga de clubes, fecundado na terça-feira (15), e os projetos anteriores, é que a base agora é econômica. A Copa União também olhava para o dinheiro, assinou contratos importantes com Rede Globo e Coca-Cola, mas ruiu pelas disputas políticas e pela dependência de um único grande parceiro, a televisão.
Os dirigentes de hoje observam o cenário de outro ponto de vista. O dinheiro não está mais na publicidade e, por isso, diminui o investimento da TV.
Mas há liquidez no mercado financeiro mundial e gente querendo se associar a produtos que possam crescer de 20% a 30% logo na largada. É o caso do Brasileirão.
A ameaça política existe. Pode ser que não dê certo, como não funcionou quando o Clube dos 13 decidiu fazer a renovação do acordo de transmissão com envelope fechado, depois de o diretor do São Paulo, Ataíde Gil Guerreiro, estudar minuciosamente todas as ligas da Europa.
O racha se iniciou com a tentadora proposta feita para Corinthians e Flamengo negociarem individualmente.
Como pano de fundo, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ofereceu a taça das bolinhas ao São Paulo e fomentou a disputa entre são-paulinos e flamenguistas.
Na madrugada de 14 de fevereiro de 2011, Juvenal Juvêncio prometeu a Fábio Koff que não aceitaria o troféu da discórdia. Às 11 horas da manhã, na mesma data, segurou a taça com as duas mãos e afirmou, diante das câmeras: “Vou me deliciar com ela”.
Há dez anos, a estratégia da CBF era dividir politicamente os clubes, oferecendo o único dinheiro possível, da televisão. A aposta, desta vez, é que o cheque virá de outro lugar. Alguns dos dirigentes mais lúcidos dizem que até a medida provisória sobre o direito do mandante perderá importância, porque a liga negociará em blocos.
A suposta unidade se expressa em pequenos sinais. A negociação coletiva para as transmissões internacionais de TV foi a primeira sinalização de que agora se entende a vantagem de negociar o campeonato todo, não cada um por si.
Recentemente, um dos 20 integrantes da Série A se recusou a negociar sua participação no álbum de figurinhas do Brasileirão. Receberia R$ 30 mil.
Uma troca de mensagens informando a recusa serviu para unir os diretores de marketing. O valor foi multiplicado por cinco. E é pouco.
O embate persiste em relação ao calendário. Há quem entenda que o debate principal não é esse. Não se trata de alongar já o Brasileiro, mas de fortalecê-lo. Os quatro grandes de São Paulo resistem na ideia do estadual, porque recebem R$ 24 milhões por ano.
O contrato termina no ano que vem. A Federação Paulista julga que conseguirá o mesmo valor –ou maior– na renovação, possivelmente com mais de um parceiro.
Presidentes de times de outros estados entendem que esse valor rapidamente será compensado com a participação apenas no Brasileirão.
Mas o primeiro passo é fortalecer a Série A. O calendário muda como consequência, porque o xis da questão é a grana.
É também a diferença entre o estadual ser administrado por uma liga ou pela CBF. A natureza política exposta no nome “Confederação”, a reunião de todas as federações, mostra que é preciso contentar muita gente. Uma liga funciona se tem olhar empresarial, não político. Essa empresa terá como coração de seu negócio o campeonato. Ele será cuidado como uma planta que precisa ser regada todos os dias. Se for bem cuidada, virará uma enorme árvore da felicidade.
É o caso da Premier League. Não é o exemplo da Liga Italiana.
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