O afastamento de Rogério Caboclo da presidência da CBF reforça Tite em sua relação com os jogadores. A vitória sobre o Equador deu demonstração de que Tite mantém características marcantes de seu início de carreira.
Quando ganhou o título gaúcho pelo Caxias, exercia liderança com os jogadores. Ao vencer a Copa do Brasil de 2001, impressionava pela modernidade de sua marcação no ataque.
Enquanto se especulava sobre a hipótese de um pedido de demissão, Tite uniu os atletas, incomodados com a mudança de endereço da Copa América.
Em campo, na atuação sem brilho contra o Equador, o que mais funcionou foi a marcação por pressão.
Dos chavões desta década, o “perde e pressiona” empata com a “ideia de jogo”, no futebol, na narrativa e na vida cotidiana.
Se há algo que Tite sempre gostou foi de lutar para recuperar a bola logo depois de perdê-la, e o Grêmio, 20 anos atrás, foi um dos times brasileiros mais capazes de fazer isso.
Aos 22 minutos do primeiro tempo, em Porto Alegre, a seleção roubou a bola no ataque, com cinco jogadores posicionados para pressionar a saída adversária. Recuperou, errou a continuação do lance, reposicionou-se e tomou a posse outra vez. Em segundos, o Brasil fez dois desarmes perto da grande área rival.
“Não é possível fazer isso por 90”, disse Tite, na entrevista coletiva. Voltou a fazer na segunda etapa e Paquetá foi responsável pela recuperação de bola que originou o gol de Richarlison, passe de Neymar.
A seleção retorna a campo nesta terça-feira (8), contra o Paraguai. Tem variação tática, três sistemas que podem ser utilizados. Paquetá começou contra o Equador como meia, ocupou a ponta direita e terminou como segundo volante.
Tite queria a saída de jogo com três homens e Alex Sandro como ponta esquerda. Ia se tornar um 3-2-5, como Thomas Tuchel faz no Chelsea e Guardiola usa para iniciar as jogadas.
O Brasil está atualizado, moderno, disciplinado e com variações de jogo. É uma das razões de os jogadores abraçarem o treinador.
A outra é a cumplicidade.
Os jogadores da seleção sentiram-se traídos depois de terem se reunido com Rogério Caboclo no domingo e descoberto na segunda-feira (31), pelo noticiário, que a Copa América seria no Brasil. É possível que Caboclo precise de ajuda de terapeutas, além de advogados.
Houve preocupação com a saúde, com os familiares, com o país, o sentimento de traição, o entendimento de que seria diferente cumprir o compromisso de jogar na Argentina e Colômbia, que haviam assinado contratos, de transferir para o Brasil, sem comitê organizador, sem estádios definidos e sem vacina.
Quem pretende confundir cobra coerência entre ter Brasileirão e não ter Copa América. O primeiro representa risco, mas mantém empregos. A segunda não existia no Brasil há oito dias.
É claro que, até dentro da seleção, haverá quem discorde de alguns destes argumentos. Democracia é, sobretudo, quando a discordância gera o debate, não a guerra. A palavra-chave é argumento.
Isso a seleção tem. Seja para manifestar seu desagravo em relação à realização da Copa América no Brasil, seja para mudar o sistema.
Os jogadores querem preservar sua saúde. É o que Rogério Caboclo precisa fazer neste momento.
SURPRESA RUIM
O São Paulo controlou o jogo contra o Atlético-GO com a bola, combateu, desarmou 12 vezes no ataque e perdeu por 2 a 0, com erro de saída de bola. Há quedas de produção difíceis de explicar. No São Paulo, só as ausências de Benítez, Daniel e Crespo ajudam a entender.
DE TRÁS PARA A FRENTE
Sylvinho melhorou o Corinthians porque acertou a defesa. Não era possível querer organizar a defesa em linha de quatro e deixar Fábio Santos de fora, o mais tático dos corintianos. Com isso e a velocidade de Mosquito na direita, teve seu melhor desempenho com o novo técnico.
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