O renascimento da Itália será posto à prova logo na estreia da Eurocopa, nesta sexta-feira (11). São 27 partidas sem derrota e a defesa menos vazada da Europa, depois da Copa do Mundo da Rússia.
A queda do Império italiano se anunciou após a conquista da Copa da Alemanha (2006) e se confirmou com a desastrosa escolha de Giampiero Ventura para ser o técnico do país nas eliminatórias para 2018.
Já eram trágicas as eliminações nas fases de grupos de 2010 e 2014, mas era possível relativizá-las pelo equilíbrio entre as seleções mais fortes e pelo vice-campeonato europeu em 2012. Ficar fora da Copa do Mundo não teve desculpa.
Tinha de começar tudo de novo.
O técnico Roberto Mancini é esperança de voltar à elite. Há 21 anos, os italianos estrearam na Euro da Bélgica e da Holanda, na mesma data e contra o mesmo adversário –11 de junho, 2 a 1 na Turquia. Naquela edição, quebraram uma sequência de 32 anos sem chegar à final europeia.
O fim de semana também terá as estreias da Bélgica, contra a Rússia, e da Inglaterra, contra a Croácia. Depois de assistir às principais seleções da Europa, vamos tirar Silvio Santos da sala para assistir a Brasil x Venezuela, no Mané Garrincha vazio.
A justificativa da Conmebol para realizar a Copa América nos anos de Eurocopa é dar aos treinadores a chance de montar suas equipes a dois anos da Copa do Mundo, e não um ano após um eventual fracasso mundial, o que obriga a vencer no continente, para evitar crise e demissão de treinador.
A estratégia fracassou em 2020, pela pandemia, sucedeu-se a tentativa frustrada de manter o contrato com Argentina e Colômbia, em 2021, e a mudança afobada de endereço para o Brasil. O certo seria equilibrar o calendário apenas em 2024.
Improvisar a Copa América em 13 dias, tempo em que não se organiza uma festa de aniversário, evidenciará o abismo com a Europa. Historicamente, o verão europeu produz jogos animados, repertório tático, brilho técnico e beleza de torcidas.
Este último item está em falta, mas espalhar o torneio por 11 sedes permitirá ver estádios com 100% de ocupação em Budapeste, culpa do regime de Viktor Orbán, na Hungria. Mesmo os 22% de lotação em Munique darão uma graça ao torneio que a Copa América não terá.
A segunda-feira (14) mostrará o contraste de 16 mil espectadores em La Cartuja, o Olímpico de Sevilha, para Espanha x Suécia, contra nenhum torcedor no Olímpico de Goiânia, em Paraguai x Bolívia.
O abismo é cultural. Até o velho orgulho do gramado perfeito do Serra Dourada está fora da Copa América.
Faz muito tempo, o Brasil era o centro do conhecimento de futebol no planeta. O inglês Jonathan Wilson, autor de “A Pirâmide Invertida”, opina que houve inovações táticas e estratégias de ataque por várias décadas deste lado do Oceano Atlântico.
Não parece mais ser assim, mas o Brasil ainda é o segundo país em jogadores escalados na Champions League e a Euro terá sete atletas que poderiam optar por jogar pela seleção de Tite: Émerson Palmieri, Rafael Tolói, Jorginho (Itália), Thiago Alcântara (Espanha), Marlos (Ucrânia), Mario Fernandes (Rússia) e Pepe (Portugal).
Assim como a Itália pode renascer com a Squadra Azzurra, o Brasil pode voltar a ser centro da cultura do futebol. Precisa de trabalho, não de politicagem. Ajudaria não escancarar a distância atual, mostrando a Copa América ao mundo, enquanto a Europa nos mostra o futebol alegre e otimista na luta para vencer a pandemia.
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