Cristiano Ronaldo é o único intocável da Eurocopa. Recordista de gols do torneio, isolou-se acima de Michel Platini. Igualou o iraniano Ali Daei como detentor do recorde de gols por seleções nacionais (109) e já era recordista em Champions League (134 gols). A reflexão é inevitável: é o maior jogador europeu de todos os tempos.
É, por mais difícil que seja nos libertar da memória afetiva, que nos faz compará-lo com gênios mais revolucionários, como Cruyff, mais elegantes, como Zidane, ou mais cerebrais, como Beckenbauer.
Cristiano Ronaldo é a mistura de trabalho com talento.
Não é uma máquina, mas o símbolo do que pode acontecer a partir do esforço do homem. Nenhuma das lendas citadas teve carreira tão longa em tão alto nível.
Só Pelé e Messi.
Quem foi o melhor de sua época, o argentino ou o português? Messi é mais genial e surpreendente. É o meu voto. No entanto, Cristiano foi artilheiro de sete edições da Champions League, uma a mais do que o argentino. Messi foi eleito seis vezes o melhor jogador do planeta. Cristiano, cinco. Poderá empatar em 2021, se levar Portugal ao bicampeonato europeu.
Não vai ser fácil.
Diferentemente do talento individual do português, coletivamente todas as seleções têm pecados, neste mês de Copa América e de Eurocopa. O Brasil é forte, mas foi salvo contra a Colômbia por um gol bizarro de Firmino, após tabela de Neymar com o árbitro Néstor Pitana.
A Alemanha teve a melhor atuação da Euro, ao triturar Portugal, por 4 a 2. Quatro dias depois, empatou com a Hungria, numa partida repleta de decisões táticas discutíveis de Joachim Löw.
A França foi cuidadosa contra Portugal e Alemanha. Pode ser campeã, com jogadores capazes de desequilibrar, como Pogba e Mbappé. Mesmo assim, não se impõe como campeã mundial. A Holanda é linda de se ver. Seu defeito é oscilar dentro dos mesmos jogos.
A Bélgica tem Lukaku e De Bruyne, é favorita para eliminar Cristiano Ronaldo, porque Portugal fechou sua chave em terceiro lugar. Mas empatou com gregos e tchecos, neste ano. Os portugueses confiam ter repetido 2016, classificados na repescagem e, mais tarde, campeões. A Itália brilha, mas há quatro anos ficou fora da Copa do Mundo, eliminada pela Suécia, na repescagem.
Ninguém é confiável.
O futebol de seleções, há tempos, produz mais surpresas do que o de clubes, onde os gigantes ganham quase sempre. Quase. O Chelsea derrotou o Manchester City na final da Champions League.
Que bom que nossas certezas são desmentidas pela imprevisibilidade do jogo pelo qual nos apaixonamos.
A superioridade do Brasil na América do Sul é incontestável, mas há cinco anos a seleção foi eliminada da Copa América pelo Peru. Esteve perto de perder da Colômbia. A Argentina empata com o Chile e sua para ganhar do Paraguai, mesmo com Messi em campo.
Hoje, os melhores jogadores colombianos, argentinos, uruguaios, macedônios, gregos, belgas, italianos, alemães, portugueses e húngaros têm acesso aos mesmos equipamentos, técnicas e tipos de treino.
O conhecimento está ao alcance de todos, e isso provoca o equilíbrio entre as seleções, muito maior do que existia 30 anos atrás. A Albânia venceu Portugal e França um ano e meio antes da Euro 2016, cuja final foi disputada por portugueses contra franceses.
O Brasil tem Tite há cinco anos, e a sequência de trabalho o fará chegar à Copa do Mundo como candidato ao título, não como favorito.
O incontestável Cristiano Ronaldo será contestado, se for eliminado da Eurocopa pela Bélgica.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.