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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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O torcedor tem sempre razão; o cliente ocasional, não

O preço de não ter fidelidade é pagar mais caro pelo ingresso

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Rogério Ceni reclamou do aumento do preço dos ingressos, que pode ter inibido a torcida do São Paulo de encher as arquibancadas na derrota por 3 a 1 para o Flamengo, na quarta-feira (24).

Havia 51.365 espectadores, quarta maior presença de público no Morumbi em 2022, abaixo apenas da final do Paulista contra o Palmeiras (60.383), da semifinal estadual com o Corinthians (53.924) e das quartas da Copa Sul-Americana contra o Ceará (52.338).

A informação de quase todos os veículos foi que o bilhete mais barato subiu de R$ 45 para R$ 70.

Não deveria, nem mesmo num país em que a inflação acumulada dos últimos 12 meses supera os 10%.

Torcedores apoiam Corinthians contra o Fluminense - Sergio Moraes - 24.ago.22/Reuters

Só que há um detalhe poucas vezes divulgado e que ajuda a entender por que o Brasil registra a terceira maior média de público dos últimos 40 anos, enquanto os debates falam em futebol chato e preço alto. O detalhe é o sócio-torcedor, o único que de fato sabe quanto paga.

Há um mês, quando se abriu a venda de Palmeiras x São Paulo pela Copa do Brasil, uma moça chamada Bruna –minha filha– questionou: "O preço subiu muito, está R$ 120!". Respondi: "Sim, mas o seu plano de sócia não aumenta há três anos".

Ela seguiu: "Você não está entendendo. O ingresso está R$ 120". Repliquei: "Se você paga R$ 136 mensais e tem 100% de desconto no bilhete, com quatro jogos em casa num mês o seu preço é R$ 34. Quanto você paga no cinema?". Depois de rápida pesquisa, Bruna verificou: "Fui ao cinema pela última vez por R$ 55".

O ingresso mais barato para São Paulo x Flamengo era R$ 75? Quem paga R$ 17 no plano vermelho, de sócio-torcedor, tem 50% de desconto. Como o mês de agosto teve cinco partidas no Morumbi, a média do ingresso por jogo foi de R$ 3,40. Mais os R$ 37,50 a ser pagos com o abatimento, o bilhete custa R$ 42.

Faz mais de dez anos que se fala em elitização dos estádios. Todas as camadas sociais têm de estar representadas nas arquibancadas, e há muito a melhorar no futebol –e no país. Às vezes, falta a informação completa. Se eu passar o dia inteiro escutando que tenho de pagar R$ 75 para ir ao estádio, e se não estiver informado, simplesmente não vou.

Deveria ser mais barato? Claro! O leite também deveria, o pão, o teatro, as passagens aéreas...

Os planos de sócios de Corinthians e Palmeiras têm a tentativa de fidelização. No Allianz Parque, só tem acesso à primeira pré-venda quem está presente em 80% dos jogos. A média de público do velho Parque Antarctica, na conquista do Brasileiro de 1993, foi de 16 mil por jogo. No primeiro turno deste ano, 34 mil.

O Palmeiras, do atacante Edmundo, conquistou o Campeonato Brasileiro de 1993 com média de 16 mil torcedores por jogo no Parque Antarctica - Antônio Gaudério - 19.dez.93/Folhapress

Ah, mas quem não é sócio não tem direito a comprar o ingresso? Tem. O preço de não ter fidelidade será pagar caro. No passado, havia jogos com mais de 100 mil torcedores. Nas finais, o preço era majorado em até 100%. Flamengo x Santos pela primeira fase do Brasileiro de 1983 tinha arquibancadas a Cr$ 500. Na finalíssima, recorde de público, custavam Cr$ 800.

Era mais barato, comparado com o salário-mínimo. Sem dúvida. Mas subiu 60% das quartas de final para a decisão. Naquele campeonato, o Flamengo jogou para 6.000 espectadores contra o Tiradentes, no Maracanã, a Cr$ 500, e para 155 mil contra o Santos, a Cr$ 800.

Você acordava de manhã, olhava para o céu, pesquisava se ia chover ou fazer sol e decidia se ia ao estádio ou à praia. A bilheteria estava sempre aberta. O estádio, vazio.

Exceto nas finais, quando você pagava 60% mais caro.

A melhor média de público em Brasileiros foi 22.953, em 1983. O Maracanã tinha 200 mil lugares.

O torcedor tem sempre razão. O cliente ocasional, não.

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