Frases do passado não levam ao hospício. Sorte de Andrés Sanchez. "Nos próximos três anos, o Corinthians será o time mais rico e estruturado do mundo." A declaração está gravada no velho programa Arena SporTV, apresentado por Cléber Machado.
Se fosse um pouco mais modesto e se referisse apenas ao Brasil, Andrés teria acertado. O Corinthians se tornou o primeiro clube do país a alcançar a receita anual de R$ 300 milhões, em 2013.
Só que estancou, enquanto o Flamengo voava para a casa do R$ 1 bilhão por ano.
É o que explica o Corinthians ter possuído o período mais fértil do futebol do Brasil entre 2009 e 2019, com três títulos brasileiros, uma Copa do Brasil, uma Libertadores, um Mundial, cinco estaduais e uma Recopa Sul-Americana.
Neste século, nem o São Paulo, entre 2000 e 2009, foi tão exitoso, com dois estaduais, uma Libertadores, um Mundial e três brasileiros. Também não são iguais os últimos dez anos de Flamengo e Palmeiras.
Contra o Corinthians, os rubro-negros ganharam a segunda Copa do Brasil do período, que possui também dois Brasileiros, cinco estaduais e uma Libertadores –podem ser duas daqui a nove dias.
O Palmeiras tem dois estaduais, duas Libertadores, três Copas do Brasil e dois Brasileiros –que devem virar três em um mês.
A vida é feita de ciclos e, por enquanto, podemos respirar aliviados por não haver uma hegemonia chata como a do Bayern de Munique na Alemanha. Incrível que a atual ameaça aos bávaros venha do Union Berlin, clube da oposição na velha Alemanha Oriental, hoje uma força da na capital europeia que dá aula de história a céu aberto.
Aqui, tudo indica que a rotatividade seguirá.
Imaginava-se um triangular entre Palmeiras, Atlético e Flamengo e, no entanto, o Internacional é o vice-líder do Brasileiro, com o Galo em sétimo lugar. Por outro lado, desde o fim do período corintiano, só atleticanos, palmeirenses e rubro-negros ganharam títulos nacionais e internacionais. Athleticanos, também os com H.
O Palmeiras tem muito trabalho para se manter no nível atual de receita, que pretende alcançar R$ 750 milhões ao final deste ano. É ótimo, mas ainda representa 25% menos na comparação com o atual rival carioca.
O Corinthians comemora chegar à mesma cifra anual do eterno adversário verde, mas com dívida superior a R$ 1 bilhão. O plano é voltar a disputar tudo sempre, mas é difícil competir tendo de pagar estádio e diminuir os boletos. Ao menos, conseguiu aumentar os ganhos.
"Bata três vezes na madeira quando seu time for tri", escreveu Alberto Helena Jr.
Sempre foi esta a história do torcedor do Brasil. Mas a realidade está mudando. Antes, os estaduais formavam gigantes regionais. O Internacional chegou aos anos 1970 com uma torcida enorme e exigente formada pelas conquistas do Rio Grande do Sul. Hoje, as potências precisam de troféus nacionais e continentais.
Então, talvez os ciclos tornem-se esparsos.
Talvez...
Há dez anos, Fluminense, Cruzeiro e Corinthians dominavam. Hoje, Flamengo, Palmeiras e Atlético.
Como será amanhã? O Botafogo vai ter equipe competitiva, o Vasco prepara o futuro, o Cruzeiro aposta na volta aos bons tempos usando o prestígio de Ronaldo para descobrir dinheiro novo.
Quem diria, 15 temporadas atrás, que Chelsea e Manchester United ocupariam posições intermediárias, enquanto Manchester City e Liverpool brigariam pelos títulos? No Rio de Janeiro, do Flamengo campeão da Copa do Brasil, há um ditado que serve para as potências atuais: camarão que dorme a onda leva.
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