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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Livros alimentam mistérios sobre seleção de 1982

O orgulho vence a tristeza há 40 anos

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O lançamento no Brasil do livro "Anatomia do Sarriá", do jornalista italiano Piero Trellini, permite ter na biblioteca três obras sobre a mítica seleção de 1982, com três visões diferentes.

À italiana, de Trellini, unem-se a brasileira de "82 – uma Copa para Sempre", de Celso Unzelte e Gustavo Longhi de Carvalho, e a espanhola: "España 82 – La Historia del Nuestro Mundial.", de Juan Antonio Simón.

A última não está disponível em português, o que não impede perceber como é incrível o legado de Zico, Sócrates, Júnior, Falcão, Cerezo e Telê Santana. Há inúmeros livros sobre Cruyff, mas nenhum sobre Alemanha x Holanda.

Existe um filme, "O Milagre de Berna", mas não uma obra específica sobre a seleção húngara.

A derrota para a Itália completou 40 anos e deixou de brinde três grandes livros, capazes de alimentar o mistério sobre as razões de uma seleção, que não era unânime, ser tão querida.

Não, não era unânime.

Zico vai ao chão na derrota do Brasil para a Itália - Jorge Araújo - 5.jul.82/Folhapress

João Saldanha escreveu no dia seguinte à eliminação que a parte boa de perder era "acabar com o charlatanismo". Recentemente, Tite leu o texto, publicado em "As 100 Melhores Crônicas de João Saldanha". Espantou-se como o brilhante colunista escrevia em tom pessoal contra Telê.

Em "Uma Copa para Sempre", Celso Unzelte e Gustavo Longhi relatam diálogo no intervalo de Brasil 4 x 1 Escócia, em que Zico se diz sobrecarregado, por precisar jogar pela direita: "Não tem problema nenhum cair por ali, mas tem de haver um revezamento. Senão, prefiro sair".

O time não era perfeito, e a Itália estava forte. Trellini recupera alerta de Falcão a Telê, na véspera do Sarriá. Conhecia o rival, por jogar na Roma: "Os italianos não serão frágeis, como na fase de grupos".

Por que a seleção de 1982 é proprietária do único fracasso amado pela torcida é um mistério que passa pelo ânimo de Brasil e Espanha. Aqui, respirava-se a renovação, três anos depois da anistia, quatro meses antes das primeiras eleições para governador pós-golpe de 1964.

Dizemos que a queda no Sarriá fez nascer o futebol pragmático no país do futebol. Mentira. As seleções de 1974 e 1978 eram cinzentas, como os anos de chumbo.

Fosse verdade, o São Paulo não teria a alegria dos Menudos três anos depois, ou a de Telê campeão mundial, dez anos mais tarde, colocando na roda o Barcelona, de Cruyff e Guardiola.

A Espanha também vivia novos tempos, sete anos depois da morte de Franco. Na véspera de Brasil x Itália, assistíamos a Polônia x União Soviética. Queríamos saber quem seria o rival da seleção nas semifinais.

Os poloneses, classificados com o empate por 0 a 0, desafiaram os colonizadores russos nas arquibancadas, ao abrir uma faixa com a frase "Solidarnosc", uma referência em polonês ao movimento social denominado "Solidariedade".

A polícia mostrou ser herdeira do franquismo. Desceu cassetetes nos manifestantes.

A surrada pergunta "ganhar como em 1994 ou perder como em 1982" é um falso dilema para quem ganhou com o melhor ataque, como em 1970 e 2002. Isso não impede que se admirem as cinco seleções vencedoras e, também, a que perdeu no Sarriá. Mesmo percebendo, pelas leituras recentes, que o estupendo time de Telê tinha imperfeições incorrigíveis.

Amamos Zico, Sócrates, Cerezo, Falcão e Júnior, adoramos a lembrança de os ídolos jogarem aqui, não na Europa. Tudo coincidia com o ar da liberdade.

A seleção de 1982 era mais feliz do que nos anos 1970 e nos fazia comemorar, inconscientemente, o tempo em que a esperança vencia o medo. É por isso há 40 anos o orgulho vence a tristeza.

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