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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Copa do Mundo no Qatar merece olhar crítico, mas sem preconceito

Visibilidade do Mundial ajudará a cobrar direitos humanos e a contar boas histórias

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É abertura de Copa do Mundo com uma lembrança de Gustavo Kuerten. Ou melhor, de dois jornalistas brasileiros, que cobriam o Torneio de Montreal, no início do século, atrás de Guga. Cheios de fome, no meio da tarde, entraram numa confeitaria e vislumbraram a vitrine com apetitosos salgadinhos.

Um deles perguntou: "Como será que aquele ali se chama, em francês?".

Metido a poliglota, o outro chamou a funcionária: "Deixa comigo!".

Seguiu-se uma frase em francês, com sotaque da serra da Cantareira: "Comment s’appelle?" (Como se chama?).

A atendente canadense, atenciosa, esticou a sílaba, para se fazer entender: "Quiiiiiiiiii..... Be". Quibe!!!!

Eureca! O saboroso salgadinho tinha, em francês, o mesmo nome em português. E no mundo.

A Copa do Mundo se abrirá neste domingo (20) e mostrará ao planeta os problemas e a riqueza da cultura árabe. O Qatar é uma monarquia absoluta, islâmica, que nos convidou a ver de perto seus pecados, como os atropelos aos direitos humanos, a ser observados com lupa por este bicho tão maltratado no mundo contemporâneo, o jornalista profissional.

É momento também de aprender outra cultura - Molly Darlington/Reuters

Não era para a Copa ser aqui. Mas é. Então é momento de cobrar justiça. Mas também de aprender outra cultura.

A primeira semana de cobertura da Copa trouxe mais dois episódios tristes. Um deles foram as ameaças ao repórter dinamarquês Rasmus Tantholdt por oficiais qatarianos, seguido por pedido de desculpas do Comitê Supremo do Qatar.

A segunda gafe não foi árabe. O técnico português Carlos Queiroz, do Irã, recusou-se a responder sobre a ausência de direitos das mulheres e ainda mandou verificar os problemas com imigrantes na Inglaterra.

Até Joseph Blatter, ex-presidente da Fifa, Blatter, admitiu ter sido um erro trazer a Copa para o Qatar, país de 3 milhões de habitantes, 90% dos quais nasceram no exterior, só 40% árabes.

Os qatarianos imaginam diminuir o que se chama islamofobia, reforçada pelo ataque ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. O futebol brasileiro temia o Oriente Médio desde a ida dos técnicos Zagallo, Telê Santana e Rubens Minelli para a Arábia Saudita, na década de 1970.

Em 1979, o noticiário assustou, com a queda do governo do xá Reza Pahlevi, derrubado por xiitas para colocar no poder o aiatolá Khomeini. Pahlevi era um ditador, derrubado por tentar modernizar o país. O iraniano é persa e, portanto, etnicamente não é árabe.

A maior parte dos árabes é muçulmana, mas nem todo muçulmano é árabe. Mais do que Khomeini, o Ocidente temeu Saddam Hussein, a Al Qaeda e Bin Laden, pós-11 de setembro. Não é justo ter medo de cultura, nenhum tipo de cultura.

Os ditadores e os terroristas citados são árabes, mas nem todo árabe é terrorista e ditador.

A Copa do Mundo se abre neste final de semana. A visibilidade ajudará a cobrar direitos humanos, direitos das mulheres, respeito à liberdade sexual, ajudará a contar histórias de vida e de humanidade.

Mas também ajudará a compreender e respeitar um povo que nos trouxe tanta coisa importante.

A Copa das Mil e Uma Noites começa com Qatar x Equador. Nove qatarianos não nasceram no país. O lateral Ro-Ró, do Qatar, tem esse apelido porque imitava Ronaldo e Romário. Nasceu em Sintra, centro da invasão moura à Península Ibérica.

Como todos nós, Ro-Ró deve gostar de homus e quibe.

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