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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Esquema de fraudes em apostas é o mais grave já visto

Do Rio, de São Paulo ou de Moscou é possível fazer qualquer tipo de aposta

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É pura sorte não ter aparecido nenhum nome de árbitro no escândalo das apostas. Quem tem escudo Fifa no peito ganha R$ 6.600 por partida. Se apitar oito jogos no mês, ficará com R$ 53 mil. O salário de Eduardo Bauermann é quatro vezes maior, e o zagueiro do Santos caiu na tentação de embolsar R$ 50 mil para tomar um cartão amarelo.

Se uma advertência vale tudo isso para quem leva, quanto pode valer mostrar o cartão?

Tem havido palestras para instruir e evitar que um novo personagem, como Edílson Pereira de Carvalho, manche o futebol brasileiro outra vez.

Ou melhor, que manche mais.

Os sites de apostas foram legalizados no final do governo Michel Temer. Bolsonaro tinha dois anos para regulamentar o setor, e seu ministério da Fazenda comeu bola de modo gigantesco.

Paulo Guedes se mostrou muito incomodado com a alíquota para aprovar o projeto das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF), porque julgava baixa. Enquanto isso, menosprezou os até R$ 10 bilhões em impostos previstos para quando os sites fossem regulados.

Regulamentar o setor é urgente, emergencial.

Operação do Ministério Público de Goiás em Goiânia contra fraudes em apostas esportivas - MPGO

A Máfia do Apito, caso Edílson Pereira de Carvalho, aconteceu graças aos sites ilegais. A partir da regulamentação, será constituído um grupo de trabalho com integrantes dos ministérios da Fazenda e do Esporte que irão determinar regras para que os Bets informem e retirem jogos com volume incomum de apostas.

Há quem diga que é necessário proibir jogar em cartões amarelos, vermelhos, escanteios, tiros de meta. Não dá. Os mafiosos chegaram a um incrível nível de sofisticação. É possível cravar em sites de Liechtenstein quantas expulsões haverá numa partida Botafogo x Corinthians, no Brasil.

O combate ao crime exigirá estudo detalhado, investigação pesada e punição severa. Não importa se Eduardo Bauermann teve postura irretocável em sua carreira até aqui. Se confirmada a participação na máfia, deve ser banido do esporte. Ou novos casos nunca serão inibidos.

Eduardo Bauermann, do Santos, em partida contra o Universidad Catolica, na Vila Belmiro, em 2022 - Paulo Pinto - 13.abr.22/AFP

Nos últimos dez meses, este é o terceiro alerta desta coluna de que os sites de apostas precisam de regulamentação e precisam se comprometer a participar do combate às fraudes. Os clubes deveriam ser os mais interessados nisso. Ao contrário, preocupam-se apenas com quanto dinheiro vão receber.

Desde que o Ministério da Fazenda, de Fernando Haddad, começou a confeccionar a medida provisória, que será assinada pelo presidente Lula, dirigentes da CBF e da Série A visitaram Brasília. Nenhum deles debateu as formas de evitar a ação dos mafiosos. Limitaram-se a pedir que a fatia de impostos destinados às suas marcas fosse maior do que o 1,63%, previsto na MP.

A miopia dos presidentes de clubes impede enxergar que ganhar 1,63% de um futebol com credibilidade será muito melhor do que arrecadar 5% com a indústria em descrédito, sem regras nem fiscalização.

O contraste é ter o Brasileiro com perspectiva de alcançar o recorde de público de todos os campeonatos deste país em 120 anos, só que ameaçado pelo mais refinado sistema de fraudes já visto.

A situação agora é mais complexa que a Máfia da Loteria Esportiva, revelada pela revista Placar em 1982, do que o Tottonero, escândalo na Itália de 1980, ou do que a Máfia do Apito, de Edílson Pereira de Carvalho, descoberta por André Rizek, na revista Veja, em 2005.

O atual esquema é mais intrincado por permitir todo tipo de aposta e por ser globalizado. De um celular, é possível estar no Rio ou em São Paulo e fraudar uma partida na Rússia. Assim como, de Moscou, participar do conluio no Brasil.

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