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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Só será possível acabar com a violência no futebol se houver vontade politica

Não adianta simular competência e prender a garrafa

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O choque pela morte de Gabriela Anelli é tão grande, ou maior, do que o do assassinato do adolescente Márcio Gasparin, em 1995. Márcio tinha 16 anos. Gabriela, uma garota de 23. Fora desses dois extremos, quase se naturalizou o drama.

Em agosto de 2011, o corintiano Douglas Karim Silva foi encontrado dentro do rio Tietê, atirado durante uma briga na zona norte de São Paulo, depois de Palmeiras 2 x 1 Corinthians. O jogo aconteceu em Presidente Prudente, a 558 quilômetros do crime.

Há quem defenda a paralisação do futebol. Ora, por quanto tempo? Se depender das medidas preventivas e punitivas, mataremos o futebol e os homicídios continuarão.

Gabriela morreu em 10 de julho, um ano depois do assassinato de Marcelo Aloizio de Arruda, guarda municipal petista, morto por Jorge José da Rocha Guaranho. Os relatos da época deram conta de que Guaranho invadiu a festa de aniversário de Marcelo aos gritos de "Aqui é Bolsonaro!".

Há 28 anos, quando Márcio Garparin foi vítima de homicídio no Pacaembu, a Federação Paulista proibiu torcidas uniformizadas nas arquibancadas, vendas de bebidas alcoólicas dentro e nos arredores dos estádios e bandeiras. Ambulantes não podiam trabalhar.

Seis meses depois, percebendo que os mesmos torcedores se sentavam nos mesmos lugares, apenas sem os adereços que identificavam suas facções, a revista Placar decidiu investigar como viviam as torcidas.

Designado pela redação, fui à sede da principal uniformizada do São Paulo, pedi uma ficha de inscrição, paguei a taxa de matrícula e, sem ser torcedor do mesmo clube, filiei-me. Depois da publicação, o comandante do batalhão da Polícia Militar, Marcos Marinho, convidou-me para uma conversa.

Explicou que a PM não podia fazer mais, porque as torcidas não estavam proibidas de arregimentar novos torcedores. Ou seja, podiam continuar arrecadando.

Simulação de eficiência do Estado.

Na terça-feira (11), o prefeito Ricardo Nunes falou sobre fiscalizar bares e restaurantes para que não sirvam bebidas em garrafas de vidro.

Nunes assinou o próprio atestado de incompetência. Os bares não vendem vidro em dia de jogo. Os ambulantes vendem. Faz falta ao prefeito, e até a jornalistas, frequentar estádios.

Os bares cumprem rigorosamente o que foi assinado, em acordo com a prefeitura, e só distribuem bebidas em copos descartáveis.

Mas nenhum fiscal da prefeitura viu ambulante vendendo em garrafa nos últimos amos? Se não viu, é incompetente. Se viu, por que não proibiu?

Prendam a garrafa!

No caso de Gabriela, a Polícia Militar cometeu erro primário. Bastava bloquear a entrada da rua Padre Antônio Tomás, por onde só entram palmeirenses com ingressos para camarotes e para o setor Central Leste, bem distantes da divisão com a torcida visitante.

Como não se fez esse bloqueio, havia torcedores uniformizados do Palmeiras circulando perto da divisória com os rubro-negros e sem policiamento suficiente.

Caixão de Gabriela Anelli é carregado em funeral - Rubens Cavallari - 11.jul.23/Folhapress

A morte de Gabriela se explica pela virulência da sociedade e pela falha de planejamento da PM. A guerra das torcidas exige um pacto que envolva o governo federal, os ministérios da Justiça e do Esporte. Tolerância zero. Fazer com que os crimes ligados ao futebol deem a sensação de punição que a Lei Seca passou a oferecer aos motoristas.

O Brasil só acabou com a inflação quando houve vontade política. Só não se acaba com a violência no futebol pelo mesmo motivo.

Eu pago imposto e vou ao estádio. Meus filhos também vão.

O poder público tem de acabar com a violência.

Não adianta simular competência e prender a garrafa.

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