Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Descrição de chapéu Balanços

A guerra saiu das redes sociais e ganhou as ruas

Tiros que atingiram  ônibus da caravana de Lula já vinham sendo disparados faz tempo na internet

Ônibus da caravana de Lula são atingidos por quatro tiros no Paraná
Ônibus da caravana de Lula são atingidos por quatro tiros no Paraná - Marlene Bergamo/Folhapress

Os tiros que atingiram os ônibus da caravana do ex-presidente Lula já vinham sendo “disparados” faz tempo nas redes sociais e na internet. Só que deixaram de ser virtuais e se tornaram reais –e, obviamente, isso faz toda a diferença.

Já faz meses que vídeos, áudios, posts, tuítes de movimentos como o MBL e o MST –só para citar um exemplo de cada lado do espectro político– pregam que o país está em “guerra” contra a “esquerda corrupta” ou a “direita fascista”.

E, num contexto de “guerra”, as pessoas acabam achando que é normal ou até permitido atirar contra um ônibus cheio de gente. Vai ver acreditam que estão prestando um serviço à nação ao invés de cometendo um crime.

Os ataques no Sul do Brasil mostram que, infelizmente, está ocorrendo um fenômeno para o qual os cientistas políticos vinham alertando: a crucificação da política e dos partidos transformou o país numa bagunça que ameaça a nossa democracia.

É claro que os políticos brasileiros também não ajudam. O envolvimento de Lula com as empreiteiras, o áudio de Aécio Neves pedindo dinheiro a um empresário, as suspeitas que pairam sobre Temer –tudo isso colabora para a ojeriza das pessoas à política.

A questão é que grupos de interesse vêm se aproveitando do salutar desejo da população brasileira de acabar com a corrupção para disseminar notícias falsas e fomentar a polarização da sociedade. Dizem que estão a favor de uma causa, quando, na verdade, disseminam ódio para ganhar cliques, apoio e votos.

“A questão é que política não se constrói com ódio”, diz o cientista político Fernando Abrucio. Para ele, o mais assustador não é ver o deputado Jair Bolsonaro dizendo barbaridades, mas políticos experientes embarcando no mesmo barco por medo de perder votos para os extremistas.

A declaração de Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB e que disputa uma fatia do eleitorado com Bolsonaro, é um exemplo do problema. Ele voltou atrás, mas sua primeira reação aos tiros contra a caravana de Lula foi dizer que “os petistas colhem o que plantaram”.

Do outro lado, a presidente do PT, Gleise Hoffmann, também não ajuda quando chama seus correligionários para a “guerra” e diz que “sem Lula, não haverá eleição”. Está na hora dos políticos manterem a calma, porque a polarização já foi longe demais e ainda faltam seis meses para as eleições.

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