Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Descrição de chapéu Balanços

Ricos devem entrar na política, mas não podem ser os únicos outsiders

Divulgação dos patrimônios de João Amoedo e Henrique Meirelles causou furor

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Causou furor nas redes sociais nesta semana a divulgação do patrimônio dos candidatos a Presidência pelo Partido Novo, João Amoedo, e pelo MDB, o ex-ministro Henrique Meirelles.

Vindos do setor financeiro, eles declararam possuir, respectivamente, fortunas de R$ 425 milhões e R$ 377 milhões. Meirelles, por exemplo, tem um apartamento avaliado em espantosos R$ 21 milhões.

Logo surgiram os comentários de que ter tanto dinheiro pode não ser crime, mas é imoral. Ou então que ninguém ganha tanto dinheiro sem fazer algo errado pelo meio do caminho.

Meirelles tem uma biografia mais conturbada, porque foi regiamente recompensado por uma consultoria para o empresário e delator Joesley Batista, da JBS. Já Amoedo, até agora, possui uma trajetória ilibada.

Filho de um médico e uma administradora, ele cursou engenharia na UFRJ e administração na PUC-RJ. Começou sua carreira como trainee no Citibank e foi promovido seguidamente até chegar a vice-presidente do Unibanco.

O patrimônio de Amoedo foi devidamente declarado. Não está no nome da esposa, dos filhos, de amigos ou de “laranjas”, o que infelizmente é comum entre os políticos. O presidente Michel Temer, por exemplo, fica cada vez pobre, enquanto suas filhas enriquecem, conforme mostrou a revista Piauí em sua última edição.

A falsa moralidade da sociedade brasileira esconde o ponto relevante dessa discussão, que é a ausência de um limite para a utilização de dinheiro próprio nas campanhas eleitorais.

Depois da reforma eleitoral motivada pelas investigações da Operação da Lava-Jato, o Brasil foi de um extremo ao outro. Saiu do financiamento privado desregrado para o financiamento público e o autofinanciamento.

Hoje um político só tem duas maneiras de pagar sua campanha —ou recebe dinheiro público através de um partido e, para isso, precisa das bênçãos dos caciques de sempre, ou paga sua própria campanha.

“O sistema se tornou mais oligarquizado. Só é outsider nessa eleição quem é rico e pode financiar a própria campanha”, disse à coluna o cientista político Fernando Abrucio.

Amoedo e Meirelles patinam nas pesquisas e dificilmente vão conquistar a Presidência, mas uma fortuna para gastar pode fazer diferença na eleição de deputados, senadores, prefeitos, governadores.

Sem falar que os partidos ficam mais atraídos pelos milionários, que conseguem bancar suas candidaturas e deixam mais dinheiro do fundo partidário para os restantes. Meirelles é um exemplo disso. João Doria, candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, é outro.

Não vejo nenhum problema nos ricos entrarem na política. Pelo contrário. Pessoas bem sucedidas e dispostas a doar seu tempo e sua experiência à vida pública devem ser louvadas. Mas é preciso isonomia de condições nas eleições para garantir a democracia.

Ficam aqui duas sugestões: o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) impor rígido limite para o autofinanciamento, o que já deveria ter sido feito, ou, ainda melhor, a sociedade superar o trauma da Lava-Jato e retomar o financiamento privado de campanha, com mais controle e transparência, a exemplo do que fazem países como França, Alemanha ou Canadá.

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