Com o ex-presidente Lula fora da disputa, poucas coisas estão ficando mais evidentes que o desejo dos brasileiros de fugir dos partidos tradicionais.
Os pré-candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) —os dois primeiros colocados com 17% e 15%, respectivamente, conforme a última pesquisa Datafolha— vêm de partidos inexpressivos.
Logo em seguida estão Ciro Gomes (PDT), com 9%, e Joaquim Barbosa (PSB), também com 9%, cujas agremiações fazem parte do cenário político faz tempo, mas estão longe do pelotão de frente.
Outra característica comum entre os quatro pré-candidatos —Bolsonaro, Marina, Ciro e Barbosa— é o gênio explosivo e a dificuldade de dialogar com pessoas de opiniões diferentes. Entre eles, Marina talvez seja a mais ponderada.
É compreensível e legítimo o anseio da população brasileira pelo “novo” diante dos escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato, envolvendo os grandes partidos: PT, PSDB, MDB e DEM.
Paradoxalmente, no entanto, um presidente irascível e com base de sustentação fraca é o que o Brasil menos precisa neste momento. Com reformas urgentes e polêmicas para aprovar no Congresso, o ideal é que o novo ocupante do Planalto fosse um negociador e um conciliador.
Os ex-presidentes Fernando Henrique (PSDB) e Lula (PT) reuniram essas características e fizeram os melhores governos da história recente brasileira, deixando, respectivamente, legados de estabilidade econômica e distribuição de renda, apesar de terem sido permissivos com a corrupção.
A aposta dos investidores e dos empresários é que o pré-candidato que poderia trilhar esse caminho é Geraldo Alckmin (PSDB), mas sua candidatura não decola, exatamente porque vai contra os anseios da população.
O problema é o que o chamado “mercado” não elege um presidente, mas seu apoio é fundamental para que ele possa governar. Cientes disso, Marina, Bolsonaro e Barbosa fazem acenos aos investidores.
Os três querem convencer o setor privado que estão comprometidos com a responsabilidade fiscal e com a abertura da economia. A exceção é Ciro, que ainda se mantém fiel à agenda da esquerda e que, se subir nas pesquisas, vai provocar pânico na Bolsa e no câmbio.
Marina efetivamente comunga desse ideário, como vem repetindo desde eleições passadas. Barbosa fala em lutar contra o capitalismo de compadrio, mas tem restrições à privatização. É tão vago que parece que ainda não pensou a sério sobre esse assunto.
Já Bolsonaro é um engodo. Se vier a ocupar a Presidência, duvido que seu discurso liberal resista às convicções estatizantes que demonstrou durante toda a vida.
Esse é o dilema do Brasil nessas eleições: Como aliar o anseio por um sistema político mais justo sem se jogar numa aventura que comprometa a governabilidade do país? Que caminho vamos tomar nessa encruzilhada?
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