Na terça-feira (9) à noite, Jair Bolsonaro (PSL), candidato à Presidência da República, disse à TV Bandeirantes que “não vai mexer na energia elétrica”, descartando qualquer privatização na área. O repórter insistiu e ele admitiu que até pode “conversar” sobre privatizar distribuidoras de energia, mas na geração “nem pensar”.
Além disso, o candidato voltou a repetir que vai preservar o “miolo” da Petrobras e que considera ruim a reforma da Previdência proposta pelo governo Temer, sinalizando com mudanças muito tênues nessa área.
As declarações foram na contramão– mais uma vez – do que já foi dito por seu guru econômico, Paulo Guedes, que prometeu “privatizar todas as estatais” para pagar a dívida pública, e assustaram o mercado, que dava como certa a venda da Eletrobras. As ações da estatal caíram cerca de 10%, arrastando consigo a bolsa de valores brasileira.
Cabem aqui duas perguntas: até quando Paulo Guedes vai aguentar ser desautorizado por Bolsonaro e até quando o mercado vai continuar se iludindo?
Não é segredo a visão estatizante do candidato do PSL. Reportagem desta Folha mostrou que, em sua trajetória parlamentar ao longo de 27 anos, Bolsonaro sempre votou contra privatizações, a favor de benesses para servidores e de medidas que elevaram os gastos públicos.
A posição dos investidores é, portanto, quase ingênua. A percepção de quem lida diretamente com o chamado “mercado” é que, inflamados pelo sentimento antipetista, os investidores vinham comprando sem qualquer crítica a conversão liberal do candidato. Isso não vai mudar de uma hora para outra, todavia a reação do mercado na última terça mostra que a ficha pode ter começado a cair.
Afinal não é a primeira vez que Bolsonaro desautoriza Guedes. Quando o economista disse numa reunião reservada que criaria um imposto nos moldes da CPMF, o candidato correu para desmenti-lo e pediu que ele cancelasse participação em eventos e não desse mais entrevistas.
É provável que Bolsonaro esteja endurecendo o discurso publicamente para evitar que Fernando Haddad, do PT, cole nele a pecha de “entreguista” do patrimônio público e “ladrão” de direitos dos trabalhadores, numa tentativa de atrair a classe média e virar uma eleição que já parece perdida. Mas é melhor não ter ilusões. A visão de Bolsonaro é estatizante. Ele agora está apenas admitindo isso.
Outros economistas do mesmo calibre de Guedes – como, por exemplo, o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles – já teriam pedido o chapéu.
Guedes, contudo, parece disposto a permanecer ao lado de Bolsonaro, aguentando todo tipo de desaforo, até a vitória. Mas e depois? Ele vai continuar firme ou vai sair pela lateral, deixando para o país a missão de resolver o problema que ajudou a criar?
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