Jair Bolsonaro (PSL) se elegeu presidente da República com a promessa de que inauguraria um novo jeito de fazer política e acabaria com o toma-lá-dá-cá que impera no Congresso Nacional. Até agora os sinais são mistos e é difícil dizer se ele vai conseguir.
Pelo menos um aspecto, contudo, parece que vai se impondo. A escolha de uma equipe econômica liberal, o avanço das investigações de corrupção, e o caixa apertado do governo prometem provocar uma revolução no lobby no país.
A mudança promete ser mais marcante na indústria. Até agora o setor industrial se mantinha no foco de atenção dos governos. Não apenas pelas relações espúrias e inconfessáveis reveladas pelas investigações da Polícia Federal, mas pelas características do setor.
A indústria gera a maior parte dos empregos qualificados e paga uma fatia expressiva dos impostos —dois atributos que atraem a atenção de qualquer político. Por causa disso, seus profissionais de relações com o governo não tinham que fazer muito esforço para serem ouvidos.
Só a menção da palavra desindustrialização provocava arrepio no Congresso e no Executivo, porque significava postos de trabalho perdidos, economia desaquecida e eleitores insatisfeitos. E nem eram necessárias muitas evidências. Bastava a ameaça para soltar uma benesse tributária aqui ou uma barreira alfandegária acolá.
Lobistas experientes de Brasília relatam que as coisas já mudaram e que não encontram interlocutores no governo de transição. Com pouco acesso a Guedes e sua equipe, conversam com o vice-presidente, Hamilton Mourão, ou com o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Os dois são considerados mais sensíveis aos pleitos do setor.
Em conversas reservadas, esses profissionais explicam que a única maneira de sensibilizar a equipe econômica a partir de 2019 será com números —muitos números - que comprovem a necessidade de determinado benefício fiscal.
É a chamada “advocacy” dos Estados Unidos: uma prática política legítima de grupos, empresas ou indivíduos para influenciar as políticas públicas e a alocação de recursos. Se essa tendência efetivamente se cristalizar, será uma mudança positiva para o Brasil.
Mas existem aqui dois pontos de atenção muito importantes. O primeiro é que Guedes e seu time precisam estar abertos ao diálogo construtivo. Se permanecerem fechados em suas convicções liberais, não conseguirão a simpatia e o apoio necessário para aprovar no Congresso as reformas que o país precisa.
O segundo é que Bolsonaro – e todos aqueles que o cercam, principalmente seus filhos— precisam estar acima de qualquer suspeita. Evidências de que eles comungam das práticas mais comezinhas da velha política, como a existência de uma funcionária fantasma ou desvio de dinheiro de salário de assessor, definitivamente não ajudam.
E contra fatos não adianta esbravejar nas redes sociais e atacar o mensageiro —no caso, a mídia. A verdade sempre acaba se impondo, mesmo que demore.
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