Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Caso Marielle ofuscou viagem de Bolsonaro à Ásia

Bolsonaro desembarca nesta sexta-feira em Brasília envolvido em uma crise política

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Geralmente desconfortável em eventos internacionais, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) vinha muito animado em seu tour pela Ásia até chegar à Arábia Saudita.

Divertiu-se na cerimônia de coroação do imperador japonês Nahurito, demonstrou pragmatismo em suas conversas com o dirigente chinês Xi Jiping e foi recebido com pompa no Oriente Médio.

Se havia poucos resultados concretos até ali, o presidente havia desfeito o mal-estar da campanha eleitoral e do início do governo, quando bateu de frente por questões ideológicas com chineses e árabes, os maiores compradores do agronegócio brasileiro.

Teve que responder algumas vezes a perguntas sobre as manifestações no Chile e não gostou da vitória da oposição na Argentina, que o deixou mais isolado na América Latina. Todavia, não cansava de repetir o quão feliz estava com o tratamento que vinha recebendo nos países por onde passava.

Dizia que vinha estabelecendo uma conexão com os líderes internacionais que encontrou, sem se importar de serem praticamente todos ditaduras. Na maioria dos países, isentou os cidadãos de visto, a fim de incrementar o turismo no Brasil. O benefício foi concedido até aos chineses a despeito do risco de imigração ilegal.

Na Arábia Saudita, o roteiro tinha tudo para ser o mesmo, porém a coisa desandou. Os problemas começaram com uma inexplicável postagem publicada, provavelmente, por seu filho Carlos Bolsonaro na conta do presidente no Twitter.

Em um vídeo amador, Bolsonaro era demonstrado como um leão acossado por diversas hienas que levavam o nome de alguns pilares da democracia como o STF, partidos políticos e veículos de imprensa. Acabava salvo por outro leão chamado de "conservador patriota".

Em entrevista a O Estado de S. Paulo, o presidente pediu desculpas ao STF e disse que publicaria uma nova postagem de retratação, o que não ocorreu. Ele se recusou a falar sobre o tema com os demais veículos de imprensa e, principalmente, diante das câmeras de TV.

Preferiu não participar do anúncio de que o fundo soberano saudita vai investir até US$ 10 bilhões no Brasil, incumbindo os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) da missão.

Ainda não há cronograma para o aporte ou a definição das obras, mas é bastante dinheiro. Bolsonaro poderia facilmente ter aproveitado a situação para cantar vitória e colher os resultados do périplo.

Provavelmente não o fez porque já sabia que o pior estava por vir. Na última madrugada da viagem, o Jornal Nacional, da TV Globo, publicou uma matéria envolvendo o nome do presidente no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco.

Segundo a reportagem, o porteiro do condomínio do presidente no Rio de Janeiro relatou à Polícia Civil que um dos suspeitos de matar a vereadora esteve por lá e pediu para chamar na casa de Bolsonaro. Ainda conforme o depoimento, alguém com a voz do "seu Jair" autorizou a entrada.

A reportagem também afirmava que havia uma contradição, porque, naquele dia, Bolsonaro, que ainda era deputado, estava em Brasília. Mais tarde, a história ficaria ainda mais confusa depois que Carlos divulgou áudios que desmontavam a versão do porteiro. Por fim, o ministério público informaria que concluiu que o porteiro mentiu em seu depoimento, mas o estrago estava feito.

Só que a reação de Bolsonaro talvez tenha sido até pior que a notícia em si. Às 3h50 da madrugada, o presidente fez uma “live” no Facebook em que suava e gritava impropérios contra a TV Globo. Em alguns momentos, parecia até que iria chorar.

Ele dormiu apenas uma hora e, pela manhã, partiu para uma palestra a um grupo de investidores altamente qualificados na conferência conhecida como “Davos no Deserto”. Falou de improviso, misturando questões internas e externas, num discurso que foi considerada pela própria mediadora do debate como “emocionado”.

Depois de 12 dias de viagem, Bolsonaro, que deixou o país comemorando a aprovação da reforma da Previdência, desembarca nesta sexta-feira (1º) em Brasília envolvido numa crise política - que arrefeceu um pouco depois da informação do MP mas deixou marcas - e sem muito o que celebrar.

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