Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Eliane Trindade
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Inflação de VIPs atrás de álcool em camarote faz surgir ultravips na Copa

Ronaldo e outros pentacampeões estão entre os poucos brasileiros a ter acesso a camarotes e lounges para categorias superiores de VIPs no Qatar

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Visão de uma Match Private Suite, camarotes com serviços cinco estrelas para convidados ultravips na Copa do Qatar, com direito a champanhe, vinhos selecionados e destilados premium dentro dos estádios, bebidas proibidas aos torcedores comuns neste Mundial Divulgação

Doha (Qatar)

Não basta ter dinheiro nem estar na lista VIP dos patrocinadores. É preciso ser amigo do rei, no caso o emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al Thani, ou do outro anfitrião da Copa, Gianni Infantino, presidente da Fifa.

Tal proximidade é o visto no passaporte para desfrutar dos espaços mais exclusivos e da companhia deles nos estádios do Mundial 2022.

A sigla VIP, que designa "Very Important Person" entre convidados de festas e eventos, ganhou pelo menos duas categorias superiores na Copa do Qatar, a dos supervips e a dos ultravips.

Amigos do emir, sheiks e representantes da elite qatariana com suas vestes típicas ocupam espaço ultravip no estádio Lusail na partida de estreia do Brasil contra a Sérvia. - Eliane Trindade/Folhapress

O "The New York Times" publicou extensa reportagem sobre o fenômeno. "Quando V.I.P. não é exclusivo o suficiente. Bem-vindo ao V.V.I.P" é o título do texto que retrata a distinção entre as pessoas muito, muito importantes daquelas simplesmente importantes.

Com o excesso de VIPs em busca de bebidas alcoólicas proibidas nos estádios, mas liberadas nos espaços de hospitalidade dentro e nos arredores das arenas, foram surgindo novos status de exclusividade ao longo deste Mundial.

A inflação dos VIPs, entre convidados dos organizadores e patrocinadores ou entre aqueles que pagam a partir de US$ 950, por pessoa e por jogo, para ter acesso a camarotes e lounges (leia lista abaixo) fez surgir o "V.V.I.P".

Logo os organizadores, no entanto, precisaram criar uma terceira lista ainda mais exclusiva: os "V.V.V.I.P.", que seria "o equivalente humano de um hotel sete estrelas", como classificou o "New York Times".

Nessa escalada rumo ao Everest do luxo em uma Copa alvo de escândalo pelo jorro de petrodólares para o Qatar sediá-la, bilionários, poderosos e famosos de verdade desfrutam de mordomias dignas da família real qatariana.

Na chegada aos estádios em carrões pretos de marcas de luxo, os ultravips são recebidos com tapete vermelho e serviço de concierge para um check-in rápido e entrada privativa.

Assistem ao evento em um espaço requintado, com menu de seis pratos e brindando com champanhe francesa, vinhos selecionados e destilados premium.

Nesse rol estão reis e príncipes do futebol, como os brasileiros Ronaldo, Roberto Carlos, Cafu e Kaká, ultravips no jogo Brasil e Suíça.

Na partida de estreia dos Estados Unidos, Ivanka Trump, filha do ex-presidente americano Donald Trump, foi vista com o marido, Jared Kushner, em um dos destes camarotes privativos.

Os ingressos de hospitalidade, as suítes, os camarotes e os lounges são negociados pela Match Hospitality, empresa credenciada para comercializar os espaços nos eventos da Fifa.

Esta Copa do Mundo arrecadou cerca de US$ 800 milhões em vendas de assentos de hospitalidade, o que seria um recorde da indústria esportiva, segundo avaliação de um porta-voz da Match Hospitality.

Entre os seis níveis de experiência VIP oferecidos nos estádios e arredores, o topo é o Pearl Lounge (Lounge Pérola), com serviço seis estrelas, e as Match Private Suites, padrão cinco estrelas.

Um pacote para série de jogos em camarote privê é oferecido a partir de por US$ 202.050 (cerca de R$ 1,1 milhão), para "ver a competição em uma perspectiva superior", como alardeia o site da Match Hospitality.

Dinheiro, poder, conexões e fama vão ditar até onde o VIP vai chegar e como chegar aos estádios do Qatar, se de ônibus da organização ou em SUVs pretos com motorista.

Nesse Olimpo, estão personalidades como Gilberto Gil, convidado de Ednaldo Rodrigues, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que recebe uma quantidade de convites "pequena", segundo um assessor, para os lounges da Fifa quando o Brasil entra em campo.

Gil e sua mulher, Flora, e a empresária e socialite Lilibeth Monteiro de Carvalho podem ser classificados, neste caso, de supervips, ao usufruir de serviços cinco estrelas no Qatar.

Organizadora do Expresso 2222, camarote mais concorrido do Carnaval de Salvador., Flora Gil compara a experiência VIP durante o Mundial. "Na Copa, você não fica assistindo o evento de camarote. Passa pela área VIP, mas curte a festa mesmo no seu assento no estádio para ver a grande estrela, que é o futebol, o jogo."

Flora avalia a hospitalidade nas arenas do Qatar como muito bem organizada e sem luxos exagerados. "O lounge é um lugar de apoio, de passagem, para você beber e comer alguma coisa no intervalo, tomar uma cerveja ou um vinho, uma vez que não tem bebida do lado de fora", explica.

"Nesse sentido, é um privilégio por conta dessa proibição de álcool nos estádios do Qatar."

Ao deixar o espaço para ir ao banheiro no jogo do Brasil contra a Sérvia, no Lusail Stadium, o cantor e compositor brasileiro foi hostilizado por bolsonaristas no corredor.

"Dentro do camarote, todo mundo quis tirar foto com Gil. Não teve nada de política, todo mundo na vibe do futebol", relata Daniela Filomeno, apresentadora do programa "Viagem e Gastronomia" na CNN Brasil e também convidada do mesmo lounge.

Ela viajou a convite da Qatar Airways, companhia área local e uma das patrocinadoras do Mundial. Viveu a experiência de supervip desde o voo de 14 horas entre São Paulo e Doha na QSuite, "um dos melhores serviços de aviação do mundo".

Passou 72 horas no Qatar, onde fez questão de andar de metrô e de Uber para visitar o Museu Nacional, obra do arquiteto francês Jean Nouvel, e apreciar a alta gastronomia local.

Daniela também elogia os espaços de hospitalidade e a organização da Copa, mas faz uma ressalva: "Não faz sentido uma proibição parcial de consumo de álcool. Por que pode beber no camarote e não no estádio? Não dá para entender essa meia regra."

Em um degrau abaixo na escala VIP no Qatar estava o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), convidado por um sheik para um dos lounges do estádio 974, onde o Brasil venceu a Suíça, na terça-feira (28).

O filho 03 do presidente festejou com um grupo de amigos em um dos lounges compartilhados, com buffet e álcool liberados, mas longe do requinte da suíte Pérola ou dos camarotes privativos.

No dia seguinte, no entanto, ele teve um upgrade. Postou foto no espaço privativo top no Al Thumana Stadium, ao lado do emir e de Infantino. Na pele de ultravip, ele trocou camiseta do Brasil e tênis por blazer e sapato social.

Já a experiência dos "quase VIPs", a galera convidada de patrocinadores ou que pagou caro para ter acesso às tendas instaladas nos arredores dos estádios, pode ser frustrante.

Algumas centenas de torcedores VIPs, por exemplo, desistiram de entrar no Match Pavillion do Lusail Stadium na partida Argentina e México, na sexta-feira (30).

Amontoados na área que dá acesso às tendas instaladas dentro do perímetro de segurança do estádio, depois de amargar fila na entrada de Hospitality, muitos desistiram diante do salve-se quem puder para colocar a pulserinha de acesso.

Rumaram direto para seus assentos dentro do estádio, onde encararam a partida a seco, sem aperitivos e cerveja com álcool, a que teriam direito apenas no espaço externo de hospitalidade da Fifa.

Torcedores enfrentam fila para entrar no setor de hospitalidade da Fifa no Lusail Stadium na partida Argentina x México, na sexta-feira (30); dificuldade para retirar a pulseirinha VIP para os lounges do Match Pavilion fizeram muitos convidados desistirem de entrar nos espaços com bebida liberada - Eliane Trindade/Folhapress

VIP mesmo não enfrenta em fila. São, em geral, representantes de grandes empresas e do setor financeiro, também com acessos privativos.

Entre os ultravips que gravitam ao redor do emir chamam a atenção no estádio os sheiks e a elite empresarial qatariana, todos homens com suas vestes brancas tradicionais ocupando os lugares mais nobres da arena.

É um contraste com os demais torcedores em suas camisetas coloridas das seleções. Entre os convidados da tribuna de honra, estavam o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, que se sentou perto do emir na partida de abertura do Mundial. O VIP dos VIPs na escala da Copa do Qatar.

Convite VIP para o Match Pavilion, espaço de hospitalidade ao redor do estádio Lusail: controle de segurança rigoroso na partida Argentina x México, na sexta-feira (30) e fila na entrada das tendas fizeram muitos convidados desistir da experiência em lounge com bebida liberada - Eliane Trindade/Folhapress

Lounge Pérola – 6 estrelas

Espaço mais exclusivo, definido como símbolo da grandeza e do glamour do velho mundo, a partir de US$ 5.000 por pessoa, por partida; pacote para final custa US$ 34.300

  • Serviços:

    Concierge dedicado e serviço impecável; melhor posição e vista do campo; menu de seis pratos, com opções à la carte e buffet; seleção de drinks, champanhe e bebidas premium; serviço antes, durante o intervalo e depois dos jogos; estacionamento privativo e brinde comemorativo exclusivo

Match Private Suite – 5 estrelas

Camarotes privativos para assistir aos jogos de um “ponto de vista elevado”, pacote de jogos chegam a cstar US$ 202.050

  • Serviços:

    Uso exclusivo da suíte; acesso direto aos melhores assentos do estádio; jantar privativo, incluindo menu degustação de cinco pratos; seleção de drinks, champanhe, vinhos e destilados premium; serviço antes, durante o intervalo e depois dos jogos; estacionamento privativo e brinde comemorativo especial

Match Business Seat – 4 estrelas

Espaço refinado e mais descontraído, voltado para altos executivos e convidados VIPs de patrocinadores, ao custo de US$ 3.050 o assento por pessoa, por partida

  • Serviços:

    Lounge compartilhado dentro do estádio; assentos de primeira categoria; menu de quatro pratos, com serviço de buffet; seleção de welcome drinks, champanhe, aguardentes, vinhos e cerveja; serviço antes, durante o intervalo e depois dos jogos; estacionamento e brinde

Match Gallery Seat – 3 estrelas e meia

Vendido como espaço de conforto e comodidade, a partir de US$ 950 por pessoa, por jogo, com acesso a lounge compartilhado

  • Serviços:

    Assentos premium localizados atrás do gol; lounge dentro do estádio; menu no estilo delicatessen com três pratos, incluindo saladas e salgadinhos servidos em buffet; seleção de welcome drinks, vinho e cerveja; serviço antes e depois dos jogos, bebidas durante o intervalo; estacionamento e brinde

Match Pavillion – 3 estrelas

Espaço de convivência, montado em tendas ao redor dos estádios, a partir de US$ 1.900 por jogo, por pessoa

  • Serviços:

    Ingresso de categoria 1 e participações em pré-jogo em partidas selecionadas; espaço temporário e climatizado localizado na vila de hospitalidade; menu de três pratos em estilo delicatessen, incluindo pratos quentes, saladas e salgadinhos servidos em buffet; drinks de boas-vindas, vinho e cerveja; atendimento antes e depois das partidas; estacionamento e brinde

Match Club – 2 estrelas

Pacote voltado para grupos, a partir de US$ 950 por pessoa, por jogo, em tendas ao lado dos estádios

  • Serviços:

    Ingresso de categoria 1; espaço temporário localizado na vila de hospitalidade, dentro do perímetro de segurança do estádio; comida de rua moderna para degustação em movimento; refrigerantes, vinho e cerveja; atendimento antes e depois das partidas; estacionamento e brinde comemorativo

A editora Eliane Trindade viajou ao Qatar a convite da Coca-Cola

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